Thursday, September 30, 2010


"As ideias de crime e de castigo têm que estar fortemente ligadas e suceder-se sem intervalo... quando tiveres conseguido formar a cadeia de ideias na cabeça de vossos cidadãos, podeis então gabar-vos de conduzi-los e de ser seus senhores. Um déspota imbecil pode coagir escravos com correntes de ferro; mas um verdadeiro político amarra-os bem mais fortemente com a corrente das suas próprias ideias; é no plano fixo da razão que ele ata a primeira ponta; laço tanto mais forte quanto ignoramos a sua tessitura e pensamos que é obra nossa; o desespero e o tempo roem os laços de ferro e de aço, mas são impotentes contra a união habitual das ideias, apenas conseguem estreitá-la ainda mais. Sobre as fibras moles do cérebro funda-se a base inabalável dos mais sólidos impérios".
J.M.Servan in Vigiar e Punir, Michel Foucault. 
Picture by Misha Gordon
Na AR discute-se o conceito de credibilidade. Por esta altura, as questões de linguística parecem ser as fundamentais para a classe política.

Wednesday, September 29, 2010

Manuel Cruz fala de fidelidade artística [e de muitas outras coisas].

Friday, September 24, 2010


Às vezes ainda te lembro a olhar para os meus cadernos e livros. A ouvir as minhas últimas descobertas. A pegar nos meus apontamentos. A discutir comigo se a teoria seria acertada. Ainda.
Mas só às vezes.
Picture by Rita Magalhães

"There is no ill that lasts forever, nor any boon that never ends"


Ao ler uma Única de 2005, vejo com indiferença os sofisticados anúncios de duas páginas do BPP, leio com curiosidade a previsão auspiciosa para a uma empresa de sucesso chamada Aerosoles.....
Esboço um esgar candidato a sorriso... no conforto do conhecimento do futuro é fácil evocar a ideia de que "não há mal que dure sempre, nem bem que nunca acabe". A economia e gestão traduzidas (e reduzidas) à sabedoria popular.

Thursday, September 23, 2010

Decididamente, devia deixar a leitura dos acórdãos para outra hora do dia. Isto de ler enormidades, cometidas por gente que vai para casa com umas advertências dá-me cabo do estômago. Não, definitivamente, não são leituras nocturnas recomendadas. É incrível como o sistema judicial se concentra unicamente n@s arguid@s e nas suas histórias, tentando descortinar as suas motivações, ensaiando a identificação da 'falha' no processo educativo ou de aculturação que expliquem o desvio à norma vigente. Da(s) vítima(s)... pouco há a dizer. Afinal de contas, "d@s frac@s não reza a história".




Tuesday, September 21, 2010


Ver não é um erro. O que acontece é que nem todos os olhos aguentam: a cegueira que aí nasce vem dos olhos, não da verdade.
Vergílio Ferreira in Aparição
Picture by David LaChapelle

Monday, September 20, 2010

Thursday, September 16, 2010

My Aphrodisiac is You

Picture by Chema Madoz
Pronto, já não é possível continuar com isto.
I'm still in love with this man

Wednesday, September 15, 2010

João, pastor no reino das Sete Cidades

Já encontrei diversas versões desta lenda (nenhuma, porém, como a de Daniel de Sá, a qual reproduzo - embora em versão reduzida). Para interessad@s na versão integral, pedir o livro à Lueji ;-) ou... consultar o post no blog do autor.

Esta questão das versões remete-me para o prefácio (ou para as primeiras páginas) do livro da Fatema Mernissi em que ela toca esta temática: a da tradição oral e das possibilidades de subversão na oralidade (e que a escrita limita). Neste caso, o autor açoriano apresenta uma versão na qual João se torna... basicamente... um canalha. Embora o impedimento para a concretização do amor da princesa e do pastor continue a ser um problema de castas, este não é provocado pelo soberano  - como as noutras versões: embora o rei se oponha a princesa mantém-se irredutível - mas antes pelo elemento masculino do casal que mostra ter uma visão instrumentalista da amada: afinal de contas, ele apaixonara-se por uma nobre e não por uma simplória.

Dorme à sombra de ervas altas, num sítio onde há-de abrir-se, pela subversão da catástrofe, o abismo do vulcão pacificado. A princesa do reino vem de passeio com a sua ama, e foge-lhe, ao perseguir uma borboleta azul. De repente dá com ele na ausêncisa do sono. Pára, em sossego, para não o perturbar. Fascinada pela beleza do jovem adormecido. (...)
João desperta com qualquer ruído, ou porque acabou o sono, e pensa que ainda sonha. A uma princesa pode conceder-se o direito de dizer a um homem "amo-te". João não o dirá, ainda que o sinta. Mas ela não fala. Os olhos bastam. (...)
Na corte, há quem grite e quem emudeça, conforme os privilégios da hierarquia lhe consentem manifestar-se contra o inaudito escândalo. Três princípes esperam uma promessa de casamento. (...)


A princesa não entende os negócios do Estado e só diz um nome e uma vontade. (...) 


A ama recebe ordem de a despir, e ela fica quase nua, por momentos. Contemplam-na o êxtase e a vergonha. Dá-lhe o pai, para as vistas, uma blusa pequena, verde como as ervas que há-de invejar aos animais, quando não tiver o que comer, porque a afasta da sua mesa, e uma saia grande, que lhe cai aos pés, azul da cor do céu que há-de cobri-la, quando lhe faltar abrigo, porque a expulsa do palácio.
Há quem chore, não ela. Mais real do que nunca, desliza entre os nobres, os embaixadores, os criados, desce a escadaria sem pressa e sem temor. Não corre, saboreia, calma, o primeiro passeio sem a sua ama, goza, antes do gozo, o fascínio do seu amor liberto. (...) 
E imagina-se a ser coroada rainha pelas boninas e malmequeres com que João lhe cingirá a cabeça.
João dorme, como sempre, àquela hora. A princesa desperta-o com um beijo. Ele estranha-lhe a roupa, o sinal de que a tornaram livre dos reais deveres, e já pode ser toda dele toda a vida. João não a abraça, não a exulta.


 Quere-a princesa e repudia-a plebeia. 

Ela vive apenas até ter a certeza de que ele diz o que sente.

Os deuses, que não olham a preços para conceder prémios ou exercer vinganças, revolvem as entranhas da terra com mil vulcões, que trazem à superfície todas as safiras e esmeraldas que ela guardava no seio. E cobrem, com milhões de pedras preciosas, como as últimas cores que a vestiram, um mausoléu enorme de basalto, que tem a forma do corpo da princesa, e muito fundo para que ninguém o veja nem perturbe o sossego dela.

Daniel de Sá in Ilha Grande Fechada.
Picture by David LaChapelle



Mas o que ela mais queria era estar morta. Percebia agora como é que há gente capaz de se matar, mas no que ela pensava não era morrer de morte, era numa outra espécie de morrer, sem corpo para enterrar, só o espírito esquecido de tudo, que a porta nunca mais se abrisse para ninguém, que o tempo detivesse pasmado a olhar para ela indefinidamente imóvel sobre a cama, sentindo a sua dor como uma coisa muito longe e sem medo de mudanças, que o relógio calaria o tic-tac, que as moscas ficariam paradas e silenciosas, que não precisaria de sequer de respirar, (...), que tudo fosse quieto e escuro como será o coração das pedras ou a coberta do céu onde não há estrelas.

Daniel de Sá, in Ilha Grande Fechada. Grazie mille, Lueji!
Painting by Henner Jean Jacques.

O Filme do Desassossego


Tuesday, September 14, 2010

A Liberdade (ainda e sempre)


É claro que é uma verdade de La Palisse, porém, há pessoas com espírito escravo. E era sobre essas que falava. Prisioneiras das chaves da(s) casa(s), do(s) carro(s), da(s) casa(s) de férias, das jóias e dos relógios, dos restaurantes e dos cabeleireiros da moda, das mobílias de designers de nome (ainda que seja somente uma questão de pintar o galo de Barcelos de branco...), dos bares in, dos hotéis em frente aos museus (nos quais não se podem perder as obras recomendadas - apenas - e onde se tiram fotografias ao lado da escultura mais famosa, para mostrar a tod@s que se lá esteve), dos livros da moda, dos últimos gritos dos gadgets.... de coisas, portanto. 

E, claro que é uma verdade de La Palice. Mas acho curiosas (eufemisticamente falando) as pessoas que, apesar de escravas das coisas, e de estarem perdidas no meio delas, continuam a achar que têm algum poder: admitindo que liberdade é poder e que a falta daquela (por via da dependência das coisas) lhes traz um défice enorme do que propalam.
Picture by David LaChapelle
Uma pessoa sabe que está a precisar de tomar vitaminas quando chega a um sítio para uma reunião... que está marcada para o dia seguinte.

Monday, September 13, 2010

e onde me leva a procrastinação? A esta hora estar a ler grego.....(adoro estes documentos da nação helénica....)
 
por este andar já devo estar em PD na arte da procrastinação...... com um inquérito para (re)inserir, um documento para imprimir e preencher, um mail profissional para escrever e vou agora mesmo.... (não, não é inserir o inquérito...) é... pedalar na bicicleta para ... adiar [ainda mais] o que tenho [mesmo!] que fazer.

Sunday, September 12, 2010

Da Descontinuação (do Bloglines)

Estava eu a viver longe da pátria e com o coração inclinado para o lado do país de acolhimento (sendo mais precisa, com o coração a ceder à sedução de um nativo) quando fui baptizada na experiência da descontinuação de produtos ou serviços virtuais. Na altura foi o email. Um dia  do ano de 2001, abro a caixa de email (como fazia todos os dias) e deparo-me com uma comunicação da empresa (netzero) a informar uma "alegada" suspensão do serviço. Mas este não foi o primeiro. Foi, contudo, a primeira vez que perdi correspondência (sem blogue, forçava @s amig@s a aturarem as minhas questões existênciais) por não estar a descarregá-la num gestor de serviço de correio electrónico. Antes já a ip (que, se não estou em erro terá sido 'absorvida' pela novis) tinha desaparecido. Porém, como já tinha transitado da ip para os gratuitos (daí que fosse cliente netzero) nem dei conta da sua extinção. Mais tarde, o netc (de quem eu tinha passado a ser cliente) foi comprado pela iol e também o serviço sofreu alterações (porém, manteve-se).
O meu grande choque foi o desaparecimento do lifelogger: sem qualquer aviso prévio. Não voltei a encontrar um serviço como este: permitia, gratuitamente, e de forma simples, fazer uploads em diversos formatos, (imagem, música)  para depois postar onde bem se quisesse (eu usava no blogue). 

Apesar de já ter contar com diversas experiências de 'descontinuação' de produtos (eufemismo para designar o fim de um produto/serviço), fiquei perplexa quando hoje, ao abrir o bloglines me  deparo com o anúncio do seu fim....a 01 de Outubro deste ano.

1234...tell me that you love me more


@ Deus@s não são auster@s

Há anos disseram-lhe que parecia uma mulher japonesa. Não seria a pele branca a contrastar com o cabelo negro que a aproximaria das orientais. Demorou algum tempo a aperceber-se que se referiam à sua atitude austera: ao silêncio com que [não] respondia às pessoas, ao olhar fixo [no vazio], à postura direita e à sua educação. Sim, a formação podia ser ocidental, contudo, a sua educação era totalmente oriental.



Saturday, September 11, 2010

Quando o sol se recolher e a chuva me empurrar para as salas emparedadas vou ansiar por novas tardes de pé descalço e corpo deitado... na relva do teu jardim.

Friday, September 10, 2010

Do eu e d@s outr@s em tempos de catástrofe

«Quando ha peste ainda naõ falta quem assista aos enfermos com o risco de ficar contagiado, quando ha forme tambem ha quem se prive do alimento para acudir ao faminto; quando ha guerra naõ falta quem arrisque a vida propria por salvar a do amigo, Pay, ou parente, mas na occasiao do terremoto se verificou aquelle adagio atéqui pouco verdadeiro, de que naõ ha Pay por filho, nem filho por Pay



(...) o que este parágrafo tenta de forma muito resumida é avançar com uma hipótese de explicação para estas atitudes egoístas -  no sentido mais próprio de «preservação do eu». E, mais notável ainda, essa explicação radica na própria natureza do terramoto enquanto catástrofe diferente de todas as outras, catástrofe pura porque catástrofe descontextualizada.

Em todas as outras ocasiões das misérias humanas há quem mostre o pior, mas também o melhor, da nossa natureza. Na peste, na guerra, na fome, há quem se coloque em risco para ajudar o próximo; no terramoto não. Mas o que todas as outras calamidades têm de comum entre si, e de distinto do terramoto, é serem prolongadas no tempo, ou melhor: é terem um contexto. Num contexto é possível fazer escolhas. Mas o sismo chega de repente; não se sabe que vai começar nem quando acabará - e os mesmos crentes com o coração cheio de amor caridoso que se encontravam na missa momentos atrás tiveram então de fazer as suas escolhas munidos apenas do mais básico dos seus corpos e consciências - e não de sistemas morais desenvolvidos durante milénios ou descritos com filosofia rebuscada. É essa a diferença, e por isso o terramoto é tão verdadeiro: revela os humanos despidos de cultura, que é o seu contexto."

Rui Tavares in "O Pequeno Livro do Grande Terramoto"
Imagem: As Tentações de Santo Antão, de Hieronymus Bosch

Wednesday, September 08, 2010

On Stigmatexts

 (Man Ray)

My dog, an avatar of Job, lacerates my foot with his desperate teeth and forever print is message of indignation in the flesh of my memory.
Hélène Cixous, Stigmata

Do Poder e da Liberdade

O verdadeiro poder não surge associado ao dinheiro que se tem/recebe.

O poder - a LIBERDADE [e não é esta a única fonte de poder?] - advém da possibilidade (do  Poder) de recusar dinheiro (não porque se tenha a mais ou não faça falta), mas por se ter consciência que há princípios e valores que dinheiro algum pode comprar.

Ou que não se podem ceder/vender sob pena da perda de Si.

Picture by David LaChapelle

Tuesday, September 07, 2010


Picture by Robert & Shana ParkeHarrison

Monday, September 06, 2010

... comigo a chorar.








(espero ter ganho juízo!) nunca mais me meto numa destas!

Tens of millions of 'missing' girls (CNN)

Wednesday, September 01, 2010

Sou FAT há 24 horas e já estou com a síndrome de mãe de aluguer.... não sei como sobreviverei à separação.