Mas o que ela mais queria era estar morta. Percebia agora como é que há gente capaz de se matar, mas no que ela pensava não era morrer de morte, era numa outra espécie de morrer, sem corpo para enterrar, só o espírito esquecido de tudo, que a porta nunca mais se abrisse para ninguém, que o tempo detivesse pasmado a olhar para ela indefinidamente imóvel sobre a cama, sentindo a sua dor como uma coisa muito longe e sem medo de mudanças, que o relógio calaria o tic-tac, que as moscas ficariam paradas e silenciosas, que não precisaria de sequer de respirar, (...), que tudo fosse quieto e escuro como será o coração das pedras ou a coberta do céu onde não há estrelas.
Daniel de Sá, in Ilha Grande Fechada. Grazie mille, Lueji!
Painting by Henner Jean Jacques.
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