Saturday, July 01, 2006
"Quando a minha irmã nasceu, o meu desapontamento foi tão evidente que a minha mãe, abafada entre lençóis e cobertores da cama do hospital, me disse:
- Ela vai crescer num instante!
Assim como se me pedisse desculpa nem ela saberia ao certo de quê.
Num instante.
Num instante?
Num instante descia eu a rua para ir a casa da Rita trocar cromos («não te compro mais enquanto não colares na caderneta todos os que tens!», dizia a mãe tantas vezes), ou para lhe emprestar um livro, ou ela a mim.
Num instante bebia eu o leite nos dias em que me atrasava, para apanhar a carrinha da escola, a voz de Margarida nos meus ouvidos: «olhe que por sua causa vamos chegar tarde!»
Num instante ficava em água o gelo, em tempo de calor – e o que eu e a Rita tínhamos rido no dia em que a Chica estava cheio de medo que os cubos de gelo entupissem a pia...
Não, a minha irmã não ia crescer num instante.
E eu não entendia por que razão a minha mãe tinha dito aquilo, se ela sabia, tão bem como eu, que não era verdade"
In Rosa, minha irmã Rosa, Alice Vieira
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1 comment:
à medida que vamos crescendo, apercebemo-nos das mentiras daqueles que mais amamos (os pais)! mas também reconhecemos que essas mentiras foram por boas causas, bem intencionadas! Com o Tempo o desapontamento é substituído pelo reconhecimento. Abraço.
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