Wednesday, February 15, 2006

A radiografia do amor, seja lá o que isso for

Ainda no rescaldo do dia dos namorados, ou das namoradas ou ainda do e da namorad@ - ou para simplificar a coisa, do santo valentim... descobri que este ano foi o ano da revelação da química do amor. A responsável terá sido a TSF - pelo menos, foi o primeiro órgão de comunicação a emitir um programa dedicado à coisa - que anunciava o tema desta forma: "mais do que sentimentos, atractivos ou truques afrodisíacos é na química que está a explicação científica desta linguagem universal - o amor".

Ontem, vi algo muito semelhante na RTP ou na SIC (já não recordo). Afinal, parece que são uma carrada de hormonas as responsáveis pelo amor. Mas no programa que ouvi na TSF - na rubrica "Eureka" - emitida em manhãs domingueiras ouvi esta coisa extraordinária: "A pílula pode estar a condicionar as escolhas da mulher, isto é, ela pode estar a escolher como parceiros, preferencialmente, aqueles que têm o mesmo padrão genético em vez de procurarem aqueles que têm um padrão genético distinto", - para resolver este problema sugiro a alteração dos anúncios de jornal..., para garantir a eficácia, pode-se colocar: "procura-se macho com padrão genético distinto do meu" - a revelação é do investigador Paulo Claro. É ele mesmo que esclarece um pouco melhor: "isto é, a pílula pode estar a levar as mulheres a não escolherem o homem certo para a vida delas"; aliás, o que está comprovado pelo aumento substancial de divórcios após a invenção e massificação do uso do comprimidito!!! E até digo mais: a pílula, essa malvada, má como as cobras, é a responsável pela queda da família como nós a conhecíamos (seja o nós, quem for, como é óbvio). Porque, como todos nós sabemos, antes da famigerada pílula dominar as hormonas das mulheres, estas zás! Acertavam sempre na escolha dos parceiros... adiante...

Segundo Paulo Claro (baseado na teoria de Helen Fischer) os que levam com a seta do Cupido (e sim, é um deus e não um anjo como uma certa estrela televisiva garantia...) passam por três fases. A saber: a Fase do Desejo, despertada pelas hormonas sexuais - e que, alguns defendem serem em muito maior número (ou pelo menos mais activas) nos homens. Ou seja, deve ser aquela fase em que se olha o outro - ainda objecto - e nos apetece saltar-lhe para a espinha, ainda que somente os peixes a tenham. Quando começarem a perder o apetite, a só pensar e sonhar com a outra pessoa, a adormecer e a acordar - não com a outra pessoa, mas a pensar nela, então, queridos, é porque já passaram a primeira fase e a segunda já vos deu as boas vindas. Podem então ter a certeza que chegaram à fase da atracção, enamoramento ou paixão. Pergunto-me se isto também é válido para as contas e dívidas... Não fiquem, no entanto, convencidos de que, esta etapa continua ad eternum - o que de resto, toda a gente sabe. O certo é que após da segunda fase, garantem os investigadores, vem a da Ligação, que é como quem diz a fase do "amor sóbrio" - em que se "ultrapassou a fase da paixão e da atracção" - ou seja, é a velha história do "@ meu companheir@ é antes de mais meu amig@", etc. e tal.

Outra das revelações (pelo menos para mim) é que é a dopanina (perdoem-me @s puristas é possível que este texto contenha alguns erros no que toca à grafia do nome das hormonas) a responsável pela sensação de felicidade - que só é válida para apaixonados correspondidos, acrescento eu, já que não vejo grandes motivos de felicidade para alguém que teve o azar de se apaixonar por alguém que não lhe liga a mínima.. Para os que estão excluídos do privilégio da correspondência há uma alternativa: pelo que ouvi, consegue-se o mesmo efeito com a cocaína.

Será outra "nina" - desta vez, a serotonina - que descontrola @s apaixonad@s e que os faz "enlouquecer de amor". Sublinhe-se que os níveis de serotonina baixam e que atingem valores semelhantes aos encontrados em pessoas com doenças mentais... Agora.. Para quem anda a saltar de caso em caso, ou de parceir@ em parceir@ - e que mesmo quando casa, continua a seguir o mesmo padrão... Existe uma palavra que não a daqueles insultos que se costuma ouvir... A palavra é: filetinanina.. Sim, é esta a responsável pelo vício do "amor" e que faz com que a pessoa procure "outra diferente quando termina o cocktail explosivo". E, diz Paulo Claro: "mas atenção têm um problema...", bom, sempre achei que estas pessoas teriam vários problemas.. Mas se o investigador o diz.. Na verdade, o que ele explica é que o organismo desenvolve tolerância à hormona em questão e como tal... Outra descoberta extraordinária é a de que existe uma "hormona da fidelidade". Por sinal, só existente nos machos... Ou seja: a vasopressina pode ser a solução para os problemas de milhares de mulheres - não percebo é porque é que os homens não têm direito a uma hormona correspondente para resolver a questão da infidelidade feminina.... Adiante. O certo é que, quantos mais receptores de vasopressina um macho tiver maior probabilidade este tem de ser fiel - e mais, experimentou-se inibir e aumentar os receptores da vasopressina e, de facto, os monogâmicos passam a ser adeptos da poligamia e os que anteriormente se comportavam como uns malucos, passam a ser os santinhos da casa... Pelo menos.. nos ratos...foram eles as cobaias que serviram para responder a esta problemática e que comprovam a importância genética e da respectiva hormona na questão do comportamento sexual dos machos. Continuo sem perceber porque é que, nesta história, não fizeram a mesma observação e experiência com as fêmeas... Será que são sempre fiéis? Ou infiéis? Ou isso não interessa? O certo é que, é baseado nesses mesmos roedores que Claro afirma que as mulheres seleccionam os parceiros - que sirvam para reprodução, note-se - que tenham o património genético mais diferente do seu. "Não há nada que comprove que a experiência dos ratinhos possa ser extrapolada para a espécie humana", sugere o investigador, que adianta que as as fêmeas do chamado reino animal se comportam dessa forma.. Portanto... Aliás, as roedoras, depois de escolherem um parceiro que seja o oposto do seu retrato genético, voltam a aproximar-se dos machos geneticamente parecidos consigo: o pai, os "tios, irmãos".. Como se pode constatar pela observação ao nosso redor, é exactamente o mesmo que fazem as humanas: engravidam e depois mandam o progenitor à fava, porque quem conta na vida é o pai, o irmão, os tios, os primos e o pai da criança que se lixe... Adoro estas conclusões que os investigadores evolucionistas fazem... No seguimento destas deduções, o investigador afirma que a selecção da cara metade está dependente da assinatura química dos odores - já se sabe que quem é desprovido deste sentido está em desvantagem... Deve pertencer ao grupo das que tomam a pílula.

Ri-me com vontade ao ouvir aquela história (que já conhecia - li Natalie Angier) de que as fêmeas procuram machos geneticamente diferentes, para melhor garantir o apuramento e em consequência, a sobrevivência da cria.. (dá ideia de que nesta história, a atitude do macho nem conta...). Acabo de encontrar a explicação pela minha atracção fulminante por esquimós.. Mas um ponto de interrogação surge na minha cabeça quando me lembro que não suporto pessoas que cospem para o chão... (terá alguma coisa a ver com os genes?? Ou terá sido porque aprendi que não é de boa educação e blá, blá, blá?). Só que me parece que o investigador esquece, que somos também animais sociais.. .

O certo é que, em termos sociais - e já há alguns estudos nesta área - as pessoas tendem a escolher alguém muito parecido com elas próprias. Parecidos no percurso social. Ainda que seja verdade que quanto mais diferenças genéticas houver maior será a atracção - o que me parece um pouco descabido, uma vez que a área geográfica da maior parte dos humanos é bastante limitada... - esquecem-se, com certeza, que existem outros factores - de ordem social - que determinam a atracção que possamos sentir por alguém. A radiografia da química do amor torna o fenómeno exclusivamente biológico e isola-o de um aspecto crucial - o social. Porque, apesar do teste das "camisas suadas" - em que camisas usadas durante dois dias por diferentes homens foram dadas a cheirar a mulheres e estas escolheram as dos que tinham um património genético mais diferente do seu - pode ser um indício forte para corroborar esta teoria, no entanto, gostaria sinceramente de saber se a mesma mulher que escolhe aquela camisa usada, iria continuar a escolher o homem que a vestiu se ele não corresponder aos seus padrões estéticos, se ele for incapaz de articular uma ou duas frases inteligentes ou... se ele pertencer a uma minoria étnica diferente da sua. Ou acreditam mesmo que os preconceitos sociais não são tão ou mesmo mais fortes que o "poder da assinatura química"?

No meio disto tudo, continuo sem perceber se os machos também escolhem as fêmeas pelas mesmas razões - ou não será também do interesse deles a perpetuação da espécie? - ou se para eles tanto se lhes dá e por isso não fazem parte da problemática dos investigadores.

Ouvi que se irá começar a reunir assinaturas para legislar a reprodução medicamente assistida.. Parece-me um bom princípio reflectir acerca das coisas. No entanto, quando ouvi a representante do grupo responsável pela recolha das assinaturas a dizer: "será correcto permitir que uma mulher sozinha tenha uma criança, ou que nasça de um embrião, uma criança de um casal homossexual?", perguntei-me em que país a senhora viveria. Desconhece ela os números das famílias monoparentais? Desconhece ela que - ainda que haja legislação sobre o que quer que seja - se uma mulher optar por ter um filho sozinha não haverá lei que a impeça? E que, quando essa mesma mulher se recusa a dar a identidade do pai da criança, o que o tribunal faz é iniciar uma investigação para saber a identidade do progenitor - pensando na protecção da criança, e acabando por vasculhar a vida privada da mãe?

7 comments:

Woman Once a Bird said...

Quanto às camisas usadas dos senhores - não terá a ver com o desodorizante e perfumes usados pelos respectivos? É que, assim de repente, entre uma camisa com perfume e outra "perfumada" pela sovaqueira, tenho a certeza que mandaria p património genético à fava!
Digo eu, que tenho a mania dos cremes, perfumes, etc.

Sextosentido said...

:)

Sextosentido said...

Aguardamos novos post...

Anonymous said...

Cada vez mais sou da opinião que se justificam muitas atitudes incorrectas que deveriam estar relacionadas com certos princípios básicos do que é Ser-se Humano em nome da luta por supostos direitos: admito a hipótese (sem certezas nenhumas) que uma mulher ou um homem tem o direito em querer ter um filho sozinho/a, mas aquele/as que realmente o fazem (por opção própria e consciente), estão, na minha opinião pouco informado/as do quão uma família é importante para a estabilidade emocional de uma criança ou então nem querem reflectir sobre essa questão porque o importante é que essa criança venha colmatar uma determinada lacuna que ela/e sente na sua vida. Um juíz (ou uma juíza) ao tentar descobrir quem é o pai da criança não está, na minha opinião, a "vasculhar" a vida privada da mãe, mas sim a tentar assegurar um direito da criança e do pai que é ambos ficarem a saber que têm esta ligação e poderem tomar as suas decisões quando possuidores dessa informação. A mulher a partir do momento em que toma a decisão de que quer ser mãe, terá de acarretar muitas consequências desse acto que vão além da sua individualidade a partir do momento que toca nos direitos da criança e do pai (caso este não concorde com a produção independente, por exemplo)...
Realmente é inquestionável: cada vez mais existem famílias monoparentais. No entanto, eu questiono-me: Admitindo que essas famílias tornaram-se monoparentais porque esse casal já não funcionava e inclusive só prejudicaria o desenvolvimento da criança se continuassem juntos, esses números não validam por si só que a produção independente seja o ideal para o desenvolvimento equilibrado de uma criança, só porque a mãe ou o pai assim o decidiu um dia...

Dirim said...

Car@ anónim@:

Antes de mais, seja bem vindo(a) :)

Evidentemente que, é em nome dos direitos da criança, que se vasculha a vida privada da mãe (e dos potenciais pais). Não escrevi que a família monoparental seja o ideal para o crescimento de uma criança. Limitei-me a constatar um facto. Também sei que há muitas famílias "cujo conceito" se encaixa na norma - vulgo: pai + mãe - que não permitem às crianças um desenvolvimento saudável. E aqui também me limito a constatar factos. Não escrevi que a produção independente seja o ideal para ninguém - porque não sei se o é ou não. O que sei, é que se uma mulher estiver decidida a ter um filho, não haverá lei que a impeça. A não ser na China, claro... em que, mais do que a lei, há uma polícia repressora que se encarrega de disciplinar através de práticas muito questionáveis - para não dizer aberrantes - a demografia do país.
Também não sei se é inquestionável que "cada vez mais existem mais famílias monoparentais" - honestamente, não conheço a evolução destes números. O que sei é que há muitas famílias monoparentais, outras não biológicas e outras que se encaixam nas categorias das "novas formas de família" que transformam crianças em adultos maravilhosos. E isto é o que me parece realmente importante.

Anonymous said...

Tb há 1 hormona + associada Às mulhers análoga à vasopressina; é a oxitocina. Tem efeit similar.

Dirim said...

Obrigada, Pedro. Vou investigar :)