Sherazade teve que voltar a Paris para se abastecer do creme que acabou. Viu-se, entretanto, obrigada a prolongar a sua estada por insistência minha, que a convenci que se o destino a encaminhava para as terras de Sarkô (como é carinhosamente (cof! cof!) tratado por aquelas bandas), ela não poderia virar as costas à sorte que lhe calhou e afastar-se assim do coração da Europa, regressando - apenas com um creme na bolsa - ao seu Portugal natal.
Para garantir que a sua estadia é rentabilizada e que ela cumpre o dever que lhe assiste (o destino é gajo, ou seja, dá sinais, mas não entrega nada de bandeja!), obrigo Sherazade a fazer-me um relatório pormenorizado dos desenvolvimentos do seu quotidiano parisiense. A pobrezinha, aguenta (estoicamente) as minhas invasivas e assertivas questões durante horas a fio, com o agravamento de uma hora de diferença horária.
Ontem, porém, o cenário foi outro. Antes de a encaminhar para o seu sono reparador confidenciei-lhe o motivo da minha última revolta. Após três horas de dissertação acerca da questão e das milhares variáveis que nela interferem, acabo por ceder à razão e desejar-lhe bons sonhos. Como resposta recebo um gélido silêncio.
- Sherazade?
....
- Sherazaaaadeeeeeeeeeee?
por fim, após chamar o seu nome uma dúzia de vezes, percebo um ligeiro ruído que percebi terem origem nas fossas nasais. Calmamente suspirei-lhe Sleep tight (tinha que ser em estrangeiro!) e enquanto pousava o auscultador pensei que já era a segunda vez que isto me acontecia e que, se calhar era melhor estar atenta aos sinais do destino.
Painting: The Sleeping Beauty, by Bernard Hall
1 comment:
Sorry Chérie....Mon Dieu eu hoje não me lembrava como tinha acabado a conversa eu amo-te á mesma .A ilustração é linda ahahahahahah
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