Saturday, August 30, 2008

Antonio Salas

"tornei-me pior pessoa depois de ter vivido como traficante de mulheres...."
Antonio Salas é repórter infiltrado e tornou-se conhecido pelo seu trabalho junto do movimento skinhead espanhol, o qual originou uma reportagem televisiva e o livro (amplamente divulgado e publicado em 2003, em Espanha) "Diário de um skinhead". A primeira vez que ouvi falar de Salas (aquando do lançamento do seu livro, em 2003) não tive noção do quão longe ele levava o conceito de 'infiltrado'. Ao escutar a descrição de como ele se preparou para assumir uma outra personagem, achei que o seu esforço seria superior ao de um actor, - que veste a pele de outra pessoa - porque, em última instância - no final do dia pode voltar a vestir a sua própria roupa, pode voltar a si, regressando ao self. Pelo que percebi, Salas nem isso se permitia: decorou a sua casa com motivos nazis, mudou o seu corpo (para além de ter rapado o cabelo, fez-se tatuar com símbolos nazis). Mas a transformação vai tão longe ao ponto de ele explicar que chamava a si ressentimentos passados para sentir alguma raiva (?) contra outras etnias. Após ouvi-lo dizer que se tornara pior pessoa com o seu último trabalho (uma investigação sobre tráfico de mulheres para exploração sexual), perguntei-me se vale mesmo a pena abdicar de si - olhar de frente para algumas das piores experiências da humanidade e ainda assim - por diferentes motivações - descrevê-las num processo de apropriação que extrapola a mera denúncia.

2 comments:

Clara said...

Não conhecia este jornalista mas vou tratar de procurar informação acerca dele.
Admiro o facto dele ter extrapolado os limites. Deve ter ficado a conhecer um pouco mais sobre si próprio e sobre a natureza humana.

Alien David Sousa said...

É complicado até porque durante o processo podemos mesmo chegar a perder a nossa identidade. A mente é algo que apesar de pensarmos que conseguimos controlar facilmente não é bem assim e ao assumir a personagem a mente pode muito bem começar a assumir essa mesma personagem.A deixar de reconhecer a antiga persona como a principal e a assumir a actual como a dominante. Não sei se me estou a fazer entender? Acho que é necessário ser-se muito forte psicológicamente para se entrar num mundo desses. Há relatos de inúmeros policias que estiveram anos undercover e que se perderam, a personagem acabou por arruinar as suas vidas. É complicado.

k.