Tuesday, December 19, 2006

Manual do abandono de autores

Parte Um - Abandonos absolutos de fazer ranger os dentes Este é um post difícil. A minha primeira reacção foi a de incredulidade. De seguida, pensei em assobiar para o lado e deixar passar. Terceira hipótese, começar a elaborar uma lista de tudo o que deixei por ler. Finalmente, decidi cingir-me aos ódios mais viscerais. Muitos houve que abandonei por falta de tempo, paciência ou simplesmente, bad timming. Como é óbvio, começo pelo meu ódio de estimação maior. Saramago - ele mesmo - para grande desgosto da Dirim. A minha não relação com Saramago é longa; começou aos 16, quando me ofereceram o Memorial de Um Convento. Beneficiou a Dirim, a quem ofereci o maldito, após anos de tentativas infrutíferas de conseguir ultrapassar a décima quinta página. Infelizmente, não me dei por suficientemente nauseada em relação ao Saramago. Anos mais tarde, lançei-me ao O Ano da Morte de Ricardo Reis, esperançada que, sob a égide de Pessoa, se desse uma espécie de passe de mágica. Obviamente, nada aconteceu. A última tentativa deu-se há três anos, influenciada por todos os professores de português que pululavam à minha beira. O Ensaio sobre a Lucidez teve um efeito decisivo para mim, conferindo-me o discernimento de nunca mais me aproximar do dito senhor. Um mau relacionamento que perdura desde a adolescência é o que mantenho com António Lobo Antunes. Comecei por tentar ler Os Cús de Judas, já nem sei bem com que idade, mas assim de memória, lá pelos 18. Nada feito então e nada feito agora. Nem as crónicas da Visão consigo apreciar. Admito que as minhas tentativas não foram tão persistentes como no primeiro caso, mas a verdade é que as crónicas têm constituído um excelente lembrete para não gastar dinheiro em tentativas mais arrojadas. Outro existe a quem nem dei o benefício da dúvida. Refiro-me ao execrável Miguel Sousa Tavares. Se excluir as colunas de opinião de alguns anos no Público - que lia num perfeito acto de autoflagelação - nunca me aventurei na leitura de nada que esse senhor tenha publicado. Por duas razões: porque tenho mau feitio e porque decidi que não me tornaria uma contribuinte para as suas caçadas, touradas, arenas homofóbicas e machistas. Abomino a personagem e não consigo em absoluto distanciar-me do desprezo que voto ao "sinhor". Aquele ar de J. Bond falhado é suficiente para me provocar o vómito, mesmo antes de abrir a bocarra. Quanto mais a Pena. Portanto, nem a recomendação mais que idónea de um (por algum tempo) equatoriano à força que muito respeito (S) foi suficiente contra esta violenta reacção alérgica. Estes são os meus mais violentos bloqueios. Curiosamente, todos na língua que (não) é a minha.

4 comments:

Dirim said...

É verdade :) O Memorial veio a ser minha propriedade pela tua oferenda, depois de em tenra adolescência me ter passado pelas mãos, por entre representações e brincadeiras com balões que aspiravam a ser máquinas voadoras. Tive uma abordagem feliz à obra, por isso, foi leitura fácil e releitura(s) com prazer. Em todo o caso, gosto bastante de Saramago. Mas desde recordo a tua aversão :)
Quanto ao Tavares - gostava muito de o ler ainda na época da GR, que assinei durante alguns anos e que lia integralmente até se transformar numa revista de viagens - mas de qualidade inferior à Volta ao Mundo. Isso coincidiu com a saída do MST da GR e a entrada do Viegas. Talvez por associar o nome dele a uma época aurea da GR lhe guardo alguma simpatia. Mas nunca li nada dele para além das reportagens, dos editoriais, artigos de opinião e crónicas. Quanto ao Lobo Antunes... nada mais a acrescentar ;-) mas..., lembro-me, assim de repente, de um que tiveste de ler por obrigação... e que, estou certa, se tivesses tido escolha o terias incluído neste rol. O nome Graça Moura, diz-te alguma coisa?

samari said...

Também fui traumatizada na adolescência pelo Memorial do Convento. Mas, felizmente, há um ano reli-o e reconciliei-me com ele. Gosto de tudo do Saramago, era estranho a aversão pelo Memorial.
Também partilho o trauma Lobo Antunes, especialmente o livro Ñ Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura.
Um outro trauma de adolescência é os Maias, mas prometo que voltarei a ele nos próximos tempos...

Dirim said...

E tu Samari, para além desses.. tens mais bloqueios literários? (por acaso, sempre gostei muito de Os Maias, tanto que o li duas vezes na altura). Aliás, o meu único trauma dos livros de leitura obrigatória foi o Amor de Perdição (não há paciência para tanto drama de fazer chorar as pedras da calçada). Adianto que também não achei muita piada à narrativa do Garrett, mas não chegou a ser trauma ;-). Com tantos livros interessantes que o Camilo tem, tinha que nos calhar aquele! Gostei muito mais de A Queda de um Anjo.

Anonymous said...

MST escreve e fala muito bem sobre política e futebol!
mas é macholas, e isso é uma seca!