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Eram inseparáveis e mesmo após abandonarem o mesmo espaço físico continuaram a sê-lo durante algum tempo.
Mas nem mesmo as juras de carinho e lealdade eternas resistiram ao hábito incorporado das novas vidas. Dias que incluiam casamentos, trabalhos, empregos, crianças, sogr@s e jantares em famílias, cocktails quando o rei de um país republicano se benzia, maridos e mulheres, e por vezes alguns rituais religiosos, quando a fé no real se tornava demasiado dolorosa para se apoiarem no cepticismo.
O acaso fez com que um dia trocassem mails. "Estou bem, obrigado. E tu? Gostaria de te ver. Vamos tomar um café?". Do outro lado responderam: "Café? Claro, eu ligo." Escrevera-o como quem responde a um cliente: "temos todo o prazer em tê-lo connosco". E nada mais. Afinal, fora tão fácil. Não havia qualquer número para onde ligar.
Picture by Armin Weigel
2 comments:
Isto lembrou-me um episódio a que assisti há alguns anos.
Dois homens cruzaram-se na rua e ambos, cumprimentando-se, perguntaram ao mesmo tempo:
- Tudo bem, João?
E lá continuaram os Joões no seu passo apressado, sem sequer esperarem a resposta um do outro.
talvez o episódio que retratas seja a imagem de como as juras de carinho e amizade eternas só são válidas durante a (não)eternidade da crença. Quando acaba é como se desvincular de um partido ou deixar de pagar as quotas de uma qualquer associação. Acontece naturalmente e ninguém dá conta. Só mesmo quem está de fora.
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