Tuesday, November 07, 2006

Desculpe, referendar exactamente o quê?

Os mesmos (pseudo)argumentos, a mesma salganhada. Hoje como ontem, muitos defendem, em jeito de digna alternativa, que é preciso investir na "educação", na prevenção do problema e, portanto, absurdo posicionar a questão na despenalização. Que equivale a não trabalhar efectivamente em questão, mas única e exclusivamente a desviar o centro do debate para a sua periferia. Quantos anos passaram desde a última vez que foram invocadas estas peudo-soluções? Quantos anos passaram desde que todos os responsáveis políticos esqueceram estas reinvindicações no dia que se seguiu ao referendo? Quantos anos de vão de escada? Fingir a inexistência do problema não equivale a desprovê-lo efectivamente de existência, pois não? Isso só ácontece nos corredores da aparência e da manipulação. E nesses corredores, não existem as parteiras de esquina. Não precisam.

11 comments:

Carla Luís said...

A dura realidade...
E se não for agora que isto passa...
À luta!

(Gostei do vosso blog!!)

Tamodachi said...

Infelizmente há muita gente perita em fingir a inexistência de muita coisa. Aliás, isso está a transformar-se numa Arte, a Arte do " se fingirmos com muita força pode ser que se torne realidade".
As parteiras de esquina não existem, porque "fingímos com muita força" para que não existissem. Na mente de muita gente não existem mesmo, e na de outros está quase a desaparecer. Acho que a única coisa que não desaparece é a lembrança que alguém tem desse vão de escada. Mas isso não é problema de ninguém...

Bayushiseni said...

O Poder da Negação.

"Sou contra a despenalização porque a minha filha nunca vai fazer sexo até se casar."

Será que ninguém percebe que é única e exclusivamente um direito inalienável de uma mulher? Decidir se quer ou não ter um filho? Será tão complicado perceber isso? Que é ridículo que sejam os homens a decidir isso por cada mulher?

Anonymous said...

Será que ninguém percebe que a vida é um direito inalienável? Que à mulher (e ao homem, convenhamos) compete ser responsável? Que a vida em formação não tem culpa dos exageros, da irresponsabilidade ou do puro azar que o casal teve? Que é ridículo encarar um embrião ou um feto como um apêndice do corpo feminino, para que esta possa dispor como lhe aprouver? Que é uma imbecilidade pensar que o problema de crianças mal-amadas ou que os abortos em vão de escada irão acabar?

Bayushiseni said...

Ah! A sério? Inalienável? A vida em formação? Se calhar é melhor penalizar as mulheres por terem menstruação. Que desperdício de metade de seres humanos. E os espermatozóides por aí largados ao chão? Punição geral para esta gente toda, caramba!

Mais triste do que se defender mordaças é ser-se ignorante, caro(a) anónimo(a).

Quem é que lhe deu o direito de legislar os úteros das suas concidadãs?

O passado histórico?

O sussurro de um deus castrador e machista?

Uma vontade enorme de povoar ainda mais a mãe terra carregada já de biliões de chupistas?

Ou pura e simplesmente hipocrisia?

Tamodachi said...

Continua-se a "fingir com muita força" que temos de nos meter na vida dos outros, e que o direito à vida dum embrião é mais importante que os direitos da mãe ao seu corpo ou à sua vida pessoal.
Continua-se incessantemente a meter o bedelho na vida dos outros, sem ver realmente o que se passa a volta, porque sim, existem crianças mal-amadas e mulheres que morrem por abortos malfeitos.
Imbecilidade é "fingir sempre com muita força" que nada disto existe...e sim, viva a Vida! Mas à que foi totalmente gerada, que nasceu e cresceu e que, apesar de todos os defensores ferrenhos da Vida, continua a sofrer sem necessidade.

Anonymous said...

Curioso que nenhum dos dois tenha contradito os argumentos.

Quanto a essa de metermos o bedelho na vida dos outros, as normas morais que normalizam a relação social residem numa coisa que se chama contrato social. Pesquise e logo verá do que se trata.

"Uma vontade enorme de povoar ainda mais a mãe terra carregada já de biliões de chupistas?"

A talisca vem provar o que digo há muito: reside aí um pequeno ressabiamento, não é?

"Mais triste do que se defender mordaças é ser-se ignorante, caro(a) anónimo(a)." Agradeço e retribuo!

Woman Once a Bird said...

Caro(a) anónimo:
Não existem argumentos a rebater. Porque efectivamente só referiu o que o meu post pretende dismistificar. Ser a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez não significa ser a favor ou contra a interrupção. Significa apenas um maior equilíbrio social, única e exclusivamente.
O direito à vida é um direito inalienável, mas só é evocado quando convém. A lei permite uma data de exclusões a esse direito, as próprias normas de organização política e social assentam sobre pequenas exclusões do género.
Caro anónimo: Inalienável é o direito à dignidade, à inclusão social.

Woman Once a Bird said...

Acrescento ainda que não tornarei a responder enquanto as convicções alheias forem apodadas de imbecis, ridículas ou ressabiadas, já que não estamos perante argumentos válidos.

Anonymous said...

"Uma vontade enorme de povoar ainda mais a mãe terra carregada já de biliões de chupistas?"


Onde reside, neste louvor a eloquência argumentativa, uma convicção????

Tamodachi said...

Citando o anónimo: "as normas morais que normalizam a relação social residem numa coisa que se chama contrato social". Infelizmente não entendo o significado desta frase, pois "as normas morais" a que se refer são muito vagas e dependem muito do que convém na altura, a quem as dita. E uma vez que as normas morais são coisas extremamente volúveis e mutáveis (acrescento de novo, apenas dependentes das conveniências de quem as dita),
assim como as relações sociais, sejam elas de que natureza forem, acho a associação disto tudo ao "contrato social" (algo que também se desfaz, muta), uma redundância.
Não preciso pesquisar, penso que percebo onde pretende chegar, não tenho é de concordar.

Não contradisse nenhum dos seus argumentos porque, alguns que deu, acho que todos concordamos, outros não são sequer argumentos.

De resto, o ser humano é mesmo de 8 ou 80, pois tanto mete o bedelho onde não deve, alegando moralismos e contratos sociais convenientemente, como fecha os olhos a coisas que dizem respeito a todos, e aí a moral, as relações sociais e os contratos sociais ficam na gaveta porque não interessam, né?
E escusam de responder... eu sei a resposta.