Friday, October 13, 2006
Sou Pelintra, mas desculpo-me!
Eu, Tamodachi, da espécie Pelintruns Socialis, acho que é meu dever vir por este meio pedir desculpa a todas as pessoas com dinheiro, famosas, JetSet, de bem, de nome e restante farinha, por existir. Devo pedir desculpa pelos transtornos causados só pelo simples facto de habitar o mesmo planeta.
Peço desculpa pelo meu carro não andar a 200km/h como o vosso Audi, e peço desculpa se, ao andar no passeio, corro o risco de danificar os vossos carros estacionados;
Peço desculpa se a minha triste figura vos incomoda enquanto espero nas filas, pelas quais vocês passam ao lado;
Peço desculpa se o meu bilhete comprado incomoda o vosso convite para os mesmos espectáculos;
Desculpem-me se compro os mesmos livros e CDs que vocês recebem de oferta, em casa;
Desculpem-me se pago para entrar nos mesmos sítios que frequentam de borla;
Desculpem-me se pago os impostos e os descontos aos quais tentam fugir;
Desculpem-me se não posso trabalhar para as vossas empresas milionárias de borla;
Desculpem-me se não tenho dinheiro para vos telefonar para telemóveis de saldo infinito;
Peço desculpa também por não publicar isto numa revista ou jornal, pois infelizmente a única maneira que tenho de divulgar o meu pedido de desculpas é fazê-lo neste meio de comunicação pelintra;
Por fim, peço desculpa em nome de um pelintra, como eu, que decidiu escrever na Declaração Universal dos Direitos Humanos que "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos." De facto, ele só podia ser um pelintra de aspirações democráticas muito fracas, que achava que com isto poderia, algum dia, chegar à vossa espécie. Era louco!!!
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9 comments:
Companheira Pelintruns Socialis... estou solidária...ahahah.
1789 foi um ano emblemático para a França. Mas acompanhado pela experimentação in loco da invenção do sr Guillotin (por sinal, não tão pelintra quanto nós: era médico e deputado, o que, no sec. XVIII, convenhamos, o retira logo da nossa classe de human@s).
O Iluminismo fez-se sentir na redacção do documento que citas (originalmente chamado Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Olympe de Gouges redigiu um documento semelhante: Déclaration des droits de la Femme et de la Citoyenne -, o qual abrangia TAMBÉM as mulheres...e claro, para ver de que se tratava acaba a experimentar a invenção do sr. Guillotin) que, actualmente, tem o nome de Declaração Universal dos Direitos Humanos - devido aos protestos do uso do falso neutro.
Mas deixa lá... Pertencer à classe d@s Pelintruns Socialis também tem os seus encantos... Por exemplo, ser alvo de estudo de antropólog@s! ;-)
eu pelintra me confesso... também...
Uiiiiiii!! Dirim, Dirim... Esse comentário sobre a DDHC impõe algumas explicações (algumas das quais anedóticas) que ficam prometidas para outro dia por falta de tempo hoje.
Quanto aos Pelintruns Socialis, ahahah ahhahahah ahhahahahhah hah hah ahahah, não consigo parar de rir. Olha que pelintras talvez sejam "os outros"...
Claro que na altura ele era Pelitruns Socialis, afinal de contas ainda nao tinham inventado os Audis...
PS- O lapso foi corrigido para "Humanos" ;)
Mas o Orwell veio corrigir essa grande falha e, na sua fábula, foca a rasura na carta dos direitos dos animais da quinta...
"Todos os Animais são Iguais", "mas uns são mais iguais que os outros."
Ora, é só traduzir para a nossa Declaração, que tudo corre bem. ;)
Grande Post.
Sim de facto tinha-me esquecido do Orwell de quem sou grande fã!!!
Lembrei-me também que a "outra espécie" pudesse ser tipo Maria Antonieta (aproveitando a dica da Dirim sobre a Revolução Francesa)que, ao saber que o povo não tinha pão para comer, terá dito: "Que comam brioches!".
Questiono-me se isto também não será possivel? Que achem que também temos "brioches" para comer ("sapos" temos de certeza)? Ou se calhar é um combo surreal entre o Orwell e a Maria Antonieta...
Deixo à vossa imaginação...
Minha querida tamodachi:
Acho que estás iludida. Não estão minimamente preocupados com o que comemos. Desde que não continuemos a pagar os impostos e a gerar dinheiro... é só o que lhes interessa. O resto, vem com as borlas.
Conheces os Intocáveis na Índia? Só que aqui o pessoal não invoca uma religião. Invoca antes a gravata e a capacidade de fuga ao fisco.
Sim...que não estão minimamente preocupados com o que comemos, eu sei, desde que seja o que eles querem que comamos. Mas ao invocar a Maria Antonienta estava a referir-me àqueles que não tem noção da importância que, por exemplo, 20€ podem ter na vida de alguém, por acharem que esses 20€ nos custam tanto a ganhar como a eles ou que toda a gente tem, efectivamente, esse dinheiro. E por vezes são esses que legislam, que fazem promessas que nunca mais se vão lembrar de cumprir ou das suas consequências. Não falo, claro dos que fazem isso propositado, porque esses já estamos habituados...
Seja como for temos de arranjar uma religião ou uma gravata, que o resto há-de vir naturalmente...;)
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