Sunday, June 18, 2006

Camille (ainda)

"Caí no abismo. Do sonho que foi a minha vida, isto é o pesadelo",
estas são as palavras de Camille descrevendo os anos de clausura no manicómio.
Desde o dia 10 de Março de 1913, quando a foram buscar a casa para o hospital psiquiátrico Ville-Evrard, para ser transferida, dois anos mais tarde, para o manicómio de Montdevergues, Camille não conseguirá que nenhum dos seus parentes aceda às suas súplicas. Primeiramente, para a deixarem viver fora dali, depois, pedindo apenas que a transferissem para mais próximo de Paris e por último, que a visitassem. Somente uma visita. Um contacto com o exterior. Uma prova do afecto. A mãe e a irmã Louise jamais foram vê-la. Paul visitava-a de quando em quando (vivia fora de França), mas nunca a libertou.
Camille morreu e foi enterrada no cemitério do manicómio. Consta que quando, 12 anos após a sua morte, a família quis recuperar os restos mortais, terão sido informados que a zona teria sido alvo de obras e que a campa se teria perdido.
Durante anos esquecida e enterrada. Camille foi reduzida à definição com referente nos outros: como amante de Rodin, como irmã de Paul Claudel. Só muito mais tarde, é reconhecida como Escultora.
Camille, a genialmente Bela. Camille, a quem não perdoaram o grito de liberdade, primeiramente da família, depois de Rodin... e a quem o amante roubou a vida. Camille deixou-se engolir pelos delírios. a ponto de destruir as suas obras por acreditar que Rodin lhe roubaria as ideias. projectou nele toda a sua frustração e medo, atribuindo-lhe toda a responsabilidade pela sua situação.
"Censuram-me - oh! crime espantoso! - o facto de ter vivido sozinha", escreve em 1917.

2 comments:

Anonymous said...

há um filme sobre ela de 1990 em que é interpretada pela verdadeiramente 'genialmente Bela' Isabelle Adjani, que até teve uma nomeação ao Oscar por esta interpretação. Nunca vi o filme mas deve ser giro. Eu gosto sempre de filmes sobre artistas por muito maus que sejam, por isso a ver se vejo.

Dirim said...

sim, eu já vi o filme. Há algum tempo passou na 2, creio. A Isabelle é extraordinária - ali e em La Reine Margot. Retrata bem a miséria e a injustiça da vida de Camille. É certo que ela estava desequilibrada. É verdade que ela se deixou dominar pelas ideias de perseguição em relação ao amante. Mas ela não merecia passar 30 anos num manicómio onde o frio lhe gelava os ossos, praticamente sem visitas e sem poder fazer o que mais gostava: esculpir.