Sunday, May 14, 2006

Estamos esclarecida(o)s

Tinha prometido a mim própria não dizer uma palavra sobre isto.... e na verdade, creio que não poderiam ser mais claros: "Porque só podem participar mulheres na construção da bandeira humana? É uma forma de mostrar que as mulheres têm um papel activo no futebol, são um reflexo da emoção do futebol, e portanto este desporto é também um desporto no feminino porque envolve milhares de mulheres, como queremos demonstrar ao realizar a Bandeira Humana."
Ou seja: quando as mulheres jogam futebol - enquanto equipa, enquanto profissionais -, ninguém lhes liga nenhuma, são totalmente esquecidas pelos patrocinadores, pela comunicação social. Não ganham prémios, não são entrevistadas ou agraciadas pela presidência. Não ganham fortunas. Porque o único papel activo que a organização concebe que as mulheres possam ter no desporto rei é serem um corpo sem individualidade, por baixo da capa da bandeira de um país cujo ego se alimenta.. de (mau) futebol.

17 comments:

Anonymous said...

bem. a mim pouco interessa se só podem participar mulheres ou se só podem participar homens ou se é tudo ao molhe. acho a iniciativa uma tristeza e um exemplo paradigmático do pensamento-bimbo-de-cabeças-pequeninas (sim, inventada por mim agora mesmo!) que sempre assola as mentes mais incautas nestas alturas.
mas bem, a vida continua, com ou sem bandeiras nacionais, femininas ou masculinas ou assim-assim. :\

Anonymous said...

Acabei de postar sobre o assunto. se tivesse vindo aqui primeiro, não tinha dito mais nada.
na escrita já se disse o suficiente. seria muito interessante uma "conversa real" sobre a questão de fundo.
Tenho uma visão particular sobre a questão, mas penso que, na questão de fundo, estamos em sintonia.

Anonymous said...

se fosse uma bandeira só com homens e com música dos Xutos e Pontapés, Camané e outros gajos era pq só os homens podiam participar, como só as mulheres é que podem participar e ver concertos dos Gitf, Sara Tavares, Dulce Ponte é pq só as mulheres é que podem participar...

podiam ler "a mais bela bandeira" por ser uma bandeira construída só com mulheres. mas não...

Dirim said...

Querido Lois: já falámos sobre isto. E quanto à leitura da "mais bela bandeira por ser uma bandeira construída só com mulheres".. nem poderia ser de outra forma.. pois, se somos o belo sexo.. e é precisamente isso que aqui critico - sermos só (na visão dos outros) o belo sexo - já quando somos pessoas normais, com cérebro e a usá-lo, aí já somos as radicais, fundamentalistas e sei lá que mais.... Já agora.. para que outras pessoas não fiquem equivocadas: os homens podem ir aos concertos, mas como não são belos.. têm que ficar a olhar (sempre neste papel) para o belo sexo.

Anonymous said...

Ainda.
Minha querida Karatekida, vá. Vá bela, com a juventude toda; primaveril!
«é verdade que » sim senhora. O princípio desta(s) verdade(s) é o mesmo! Deixe lá.
O chá e umas torradinhas, depois do cinema, são sempre um bom pretexto. Mas, olhe, pretextos há muitos.

Dirim said...

Karatekida: eu sei que és muito mais do que o teu belo rosto ou do que o teu belo corpo. Eu sei. Mas quanto a isto:
"mas agora que penso nisso, faço-o em parte, porque em muitos cantos do planeta, um evento destes não podia sequer ter lugar, simplesmente porque nesses países, as mulheres não contam…",

quanto a isto, só te posso dizer que nesses países que não identificas, mas que calculo a quais (alguns) te refiras, as mulheres são confinadas ao espaço privado, são-lhes negado os direitos de cidadania e os básicos direitos humanos. Por cá, são mais subtis. Por cá, incomodam-se porque as mulheres estão em maioria nas faculdades de medicina. Por cá, perguntam-nos se temos filhos ou se pretendemos tê-los (se os temos sozinhas) numa entrevista de trabalho. Por cá, as mulheres, apesar de mais letradas, têm mais dificuldade em arranjar trabalho e ficam desempregadas mais tempo.. por cá... Somos visíveis porque somos belas. E somente quando (e enquanto) o somos/formos (queres melhor exemplo que a nossa amiga BG?). Quanto às restantes modalidades.. bom, Portugal tem campeões (e campeãs) em muitas modalidades - no entanto, pouca gente sabe disso. Porque em Portugal, desporto é igual a futebol (repito: no masculino). Há bandeiras nas varandas e janelas deste país. Quando? Quando um português ganha um Nobel? Quando há (mais) uma descoberta científica? Não.. pois claro que não. Quando jogamos futebol. E nem poderia ser de outra forma.

Anonymous said...

A construção da bandeira nada tem a ver com o papel activo ou não das mulheres no futebol, é apenas uma estratégia de marketing comercial para vender a última grande aposta da Nike, as camisolas femininas das selecções.

Dirim said...

Angel: e a estratégia de marketing a que te referes (e a qual identifico) explora exactamente o quê? Não será tudo o que já falámos?

Anonymous said...

Desculpem a insistência comentadora.
Voltei só para dizer que a mulher na capa da Max-man não tem nada a ver com o Género. Trata-se de uma estratégia de marketing.
Ah, e o homem musculado na Elle, tb não tem nada a ver com o Género. Nada!

angelofpromise said...

Acho apenas que deveremos olhar para a superficialidade e não procurar profundidade onde ela não existe. A iniciativa pretende apenas vender camisolas neste caso femininas. A exploração é a mesma quando são utilizados bebés para vender Dodots e homens para vender por exemplo máquinas de barbear etc, etc.. Não existe nada de profundo nisto. Há que lutar pelos direitos e igualdades mas não me parece que nos fique muito bem sentirmo-nos vítimas ou o centro das atenções do marketing, já que este utiliza qualquer sexo, idade ou religião para vender.
Quanto à direcção das marcas para os produtos femininos no futebol tem a ver com o interesse crescente das mulheres por este desporto, em que as nossas vizinhas espanholas são um exemplo perfeito desse crescimento. É a lei do mercado nada mais. Não me parece nada desprestigiante participar num evento destes, já que grande parte das mulheres vai fazer o que mais gosta, conviver e sorrir. E um dia sem sorrir é um dia desperdiçado. Tenho a certeza que todas se vão divertir imenso!!!

Dirim said...

Sucede, porém, Angel, que a lei do mercado explora uma lógica que vem sendo construída há muito e que solidifica preconceitos. Sucede, porém, que o mundo, de facto, não é a preto e branco. Não sou eu que digo que "A construção da bandeira tem a ver com o papel activo ou não das mulheres no futebol" - é a organização do evento. Eu limito-me a questionar que raio de papel activo é esse a que se referem.

Woman Once a Bird said...

Agora tenho a certeza que vou sorrir muito mais.

Taxista Feminista said...

Infelizmente, o papel das mulheres neste Mundial de 2006 não é só preencher com caras "bonitas" e "graciosas" a "mais bela bandeira do mundo"... Parece que lhes reservaram um outro lugar muito especial: "entreter" os espectadores (e os intervenientes?) dos jogos - visitem este site e aproveitem para assinar a petição. http://catwepetition.ouvaton.org/php/index.php

Dirim said...

Olá Taxista feminista:)
A Horvallis (http://horvallis.blogspot.com/) tem um post (http://horvallis.blogspot.com/2006/05/porque.html) sobre isso. O assunto está a ser bastante mediatizado, sendo, inclusive, discutido no Parlamento Europeu. E já agora,parabéns pela iniciativa!

angelofpromise said...

Woab se sorrisses um pouco mais acabarias por entender que defender os direitos das mulheres é exactamente respeitar a vontade e a opinião delas. Com ironias só provas que nada evoluiu, continuam, como sempre, as mulheres a serem as suas próprias castradoras. Como defensora dos direitos e igualdades para as mulheres deverias ter dado o exemplo e ter levado a discussão como uma simples troca de opiniões.

Woman Once a Bird said...

Continuo a sorrir. Muito.

Anonymous said...

Eu gostava de ter participado... era meio caminho andado para realizar o sonho da minha vida (ser burra) e ganhar o meu cantinho no Ceú...