Wednesday, January 04, 2006

Green Street Hooligans

"I've never lived closer to danger, but I've never felt safer. I've never felt more confident, and people could spot it from a mile away. And as for this, the violence? I gotta be honest - it grew on me. Once you've taken a few punches and realize you're not made of glass, you don't feel alive unless you're pushing yourself as far as you can go".
A acção decorre em Londres. Retrata um grupo - eufemisticamente chamado de firm - adepto de um clube de futebol e que se envolve em confrontos físicos após os jogos.
"Pensa em alguém que detestes". Esta foi a frase que ajudou o ex-mr. Frodo - recém chegado dos EUA - a participar numa luta de gangs pela primeira vez.

Mais tarde, ele dirá: "uma vez que percebemos que não somos feitos de vidro, queremos ir até ao limite". Sorvi aquelas palavras. Mais uma vez, à semelhança, do que tinha sentido no Fight Club, fiquei convicta de que a violência física pode ser um escape para as tensões quotidianas. Tive vontade de experimentar. Nem mesmo as repetidas imagens em que o sangue escorre dos narizes partidos ou salta das bocas de lábios rasgados e os rostos desfigurados de tanto apanhar me fizeram vacilar. Aliás, só me fez lembrar como é que, segundo Hollywood, as mulheres não sangram quando estão envolvidas em confrontos físicos. Não há cá camisolas ensanguentadas, bocas a espirrar sangue ou narizes a escorrer... Não, quando as mulheres lutam, o set permanece clean, de cores onde o vermelho não tem lugar. Como que para lembrar que na vida real as mulheres não lutam. Para tirar ainda mais realismo à coisa. Claro, há a excepção de One Million Dollar Baby - onde seria escandalosamente irreal se uma pugilista não sangrasse depois de apanhar com uma luva de boxe na cara.

A estória de Green Street Hooligans, com um mr. Frodo de olhos esbugalhados a aprender a lutar - to fight back - nas ruas britânicas despertou-me sentimentos ambíguos. Por um lado, parece ser um filme de reabilitação dos gangs de claques, por outro parece ser uma estória de aprendizagem de coragem e de amizade.
O GSE - o nome da firm - é constituído por gente tão normal que a sua única anormalidade é mesmo que pessoas com alguma formação utilizem o futebol - apesar das tatuagens no peito - como argumento para se desforrar no gang rival. Os membros do grupo (clube tipo menina não entra) são (pasme-se) professores, assistentes de bordo ou correctores de bolsa. E também são profundamente xenófobos e dogmáticos - mr. Frodo tem problemas de integração não só por ser um novato, mas por ser estado-unidense. A palavra jornalista provoca reacções de ódio extremo. É uma nova raça - a abater. Mas sem haver grande explicação das eventuais mentiras dos media. Estes são odiados porque condenam as acções de violência dos grupos e "por só dizerem mentiras". Os negros que constituem um dos grupos rivais são pejorativamente apelidados de Zulus. No GSE não há negros.

Green Street Hooligans reabilita os gangs - ou de certa forma a violência - porque termina com mr. Frodo a enfrentar o seu ex-colega de quarto de Harvard - um miúdo sem sal, bem nascido e totalmente agarrado à coca e que tinha sido responsável pela expulsão de mr. Frodo da prestigiada universidade. No final, vemos como consegue ameaçar fisicamente o ex-colega, encostando-o à parede e levantando o punho fechado.
Claro que é totalmente redutor afirmar que o filme é somente um apelo à aprendizagem da violência gratuita. É profundamente misógino também. As mulheres têm aparições naquela sociedade. Na escola há miúdos. Nas ruas há homens, nos estádios também. Das poucas imagens onde surgem elementos do sexo feminino, só uma é suficientemente importante para lhe sabermos o nome: Shannon. E claro, ela é redentora. Ela salvou um antigo membro - com o amor. Mais uma vez, a apologia de que o amor salva. E este filme é estranhamente misógino. Não só porque na realidade, há mulheres nas claques e entre @s arruaceir@s que provocam distúrbios nas ruas, como também elas são motoras de violência - nas infelizes manifestações da extrema-direita elas lá estão para provar que a imbecilidade não tem género, e a sua presença em grupos que espalham violência gratuita já foi documentada por diversas vezes (de resto, há uma dezena de anos, um dos gangs que aterrorizava @s passageiros dos comboios da linha de Sintra era liderado por uma miúda). Por outro lado, os homens deste filme têm como motor de vida a reputação - uma ideia irónica, já que esta terá sido de sobre-importância para a vida das mulheres. Por sinal, para alguns homens também.
O líder do grupo tem sentimentos humanos: é solidário. Contrastando com a imagem inicial de um idiota que vive para bater em alguém, a meio do filme assistimos a cenas em que ele brinca com os alunos. Vêmo-lo a sacrificar-se para proteger a família do irmão e a proteger mr. Frodo em provas de amizade. É totalmente reabilitado no final, através do sacríficio a que se submete. Os restantes membros do grupo parecem ter uma vida que oscila entre o trabalho e o bar onde se reúnem para beber e claro... os confrontos...
Vemos mr. Frodo dizer que transpira confiança após uma luta, ao angariar admiração, enquanto assina uns autógrafos às poucas raparigas que se podem ver no bar do grupo. Sabemos também que o mais importante a certa altura não é ele sentir-se protegido pelo grupo, mas saber que pode proteger. Ou seja, é a apologia do controlo do corpo e do medo. Do total controlo das variáveis externas e da negação do medo tantas vezes confundido com cobardia. Mr. Frodo finalmente transforma-se num homem de verdade. Mas onde ele se sente integrado, protegido e com vontade de proteger é de onde surgem as traições, os julgamentos sem que haja lugar a uma só pergunta. E nem após as provas dadas, mr. Frodo consegue escapar à tacanhez do medo e do ódio que o grupo tem pelos jornalistas. Não interessa que ele não seja um deles. É filho de um deles, o que o torna indigno para o grupo. Uma ameaça. Um alvo a abater. Neste caso, não há lealdade ou amizade possível.
Mas será Green Street Hooligans uma história de amizade e lealdade? Também, mas não só. Sleepers ou Stand by me são outros exemplos de amizade e lealdade. Diferentes, porque naqueles casos, a amizade é construída desde criança. Mas existe, está lá, sempre aliada a um forte sentimento de lealdade. Mas lealdade a quem? Aos amigos? Ou ao grupo e à sua reputação?

P.S: Elijah Wood interpreta um Matt Buckner acabadinho de ser expulso de Harvard a dois meses de obter o diploma de jornalismo e não um novo mr. Frodo. A razão pela lhe chamo mr. Frodo é porque ainda não o consegui separar do personagem dos pés felpudos, from the Lord of the Rings.

3 comments:

A. said...

Bom, a sinopse não poderia estar mais bem feita. Queria apenas ressaltar que este filme lembrou-me o quão fácil é sermos/tornarmo-nos violentos.
Aconselho vivamente. (Não a violência, claro, o filme!!)

Sextosentido said...

Deixo um beijinho. Qt ao filme, dada a sua violência, não me seduziu... mas nunca se sabe!

Anonymous said...

nossa! se me seduzio? eo quase morri de raiva no fim fo filme, os meninos q assistram cmg, sairam um pouco antes da sala pq como eles falaram " eo não quero apanhar de vc aqui Jhessy"
Mais o filme é perfeitoooo! *-*
ameiii muuuito o filme, ainda mais pra completar tem o charlie hunnam neh (Y)

Beijoos.