Friday, December 30, 2005

porque...não será antes porquê?

Se há coisa que me irrita é a mania que certas pessoas têm de fazer uma pergunta recorrendo a uma única palavra que, habitualmente, inicia uma resposta. Falo, obviamente, do "porque". E, ultimamente, são tantas as pessoas que o dizem: "porque?" como se fossem detentores da verdade e que esta lhes está pronta a sair da boca e só por puro obséquio é que o passam para a outra pessoa....

- Venho, por favor, solicitar a minha excomunhão

- Vem pedir o quê?

- A minha excomunhão

- porque?

A vontade que me deu foi dizer-lhe: "por certo que pretende dizer porquê e não porque, até porque é a palavra que se utiliza no início de uma resposta e não de uma pergunta...". É claro que a resposta que eu devia ter dado era que a razão pela qual solicito a minha desvinculação (oficial) a uma instituição religiosa é do meu foro privado e não diz respeito a uma funcionária administrativa. No entanto, como estou formatada para ser educada, respondi-lhe cordialmente... ainda assim, uma pergunta permanece: não deveríamos poder somente comunicar-lhes esta desvinculação? Isto até parece um casamento: ou seja: um contrato onde ambas as partes têm que concordar com a ruptura, caso contrário, o Estado decide o que ser irá fazer...neste caso, a ideia ainda é mais estranha quando sabemos que uma das partes é uma Igreja e que o Estado deve ser leigo.. ironias......

6 comments:

Sextosentido said...

E permite-me então perguntar: Porquê?

Dirim said...

Mariana: basicamente é porque não sou católica. Há muito que não sou católica mas, enquanto baptizada consto dos registos dos crentes - e penso que lá continuarei durante mais algum tempo, já que me encaminharam para o Patriarcado (só o nome já me arrepia) para efeitos de desvinculação. Para mim é uma questão de coerência. Nunca me filiei em qualquer partido, mas penso que entregaria o cartão caso sentisse alterações ideológicas que fizesse com que não me identificasse com o Partido. Neste caso, uma vez que não posso devolver a água benta...

Woman Once a Bird said...

Porquê tanta importância a papéis e listas?

Anonymous said...

Desculpa, Dirim, mas parece-me algo bizarra essa preocupação. Se não atribuis valor ou significado ao assunto porque (lá está o porque...) te maças tanto com ele? Se te é indiferente... Ou será que não é?...

Se viesse um mulçumano dizer-me que eu estava ungido com qualquer coisa a que eles dão significado eu dir-lhe-ia: yá, meu...

Dirim said...

rps: não sei se me preocupo em demasia ou não. Sei que me irrita a constante resposta "então és católica" quando explico que não sou, apesar de ser baptizada (!). Embora explique, calmamente, que por certo, eu saberei melhor qual a minha posição religiosa do que a pessoa que diz isto, e que não é pelo facto de ter sido submetida a um ritual de iniciação - para o qual nem tão pouco fui chamada a opinar - que faz de mim uma católica (pelo menos no meu entender) o facto, é que perante a Igreja do Vaticano eu sou. E, repito, por uma questão de coerência penso que o melhor que faço é mesmo solicitar a minha desvinculação. Quando morrer não gostaria de ser submetida a um ritual católico, no entanto, quando morrer ser-me-à totalmente indiferente.. enquanto estou viva o caso muda de figura...não me identifico com a Igreja do Vaticano (muito embora reconheça o papel crucial que tem enquanto assistente social tem pelo mundo fora - muitas mulheres e homens desta igreja têm morrido pelo mundo fora enquanto tentam ajudar @s outr@s - tal como muit@s médicos e outros voluntári@os). Também não acho que @s católic@s sejam um grupo homogéneo. Mas a Igreja do Vaticano é comandada por humanos. Mais concretamente, por homens mortais. E as minhas crenças religiosas, espirituais ou seja lá o que for, só a mim pertencem. Costumo dizer que sou um bocadinho satânica - não querendo com isto dizer que adoro o diabo ou quaisquer outros disparates - mas sim, querendo exprimir que sou individualista, e como tal, a ideia de crenças em grupos, de total dedicação a partidos ou outra coisa do género é-me profundamente estranha. Se tanta gente acredita num Deus (ou Deusa) à sua maneira, qual é a necessidade de rezar em conjunto? Se cada pessoa tem uma ideia pessoal do que é deus@ e de amá-l@, então, que sentido faz, o recrutamento de crentes?

Anonymous said...

No fundo, és uma mística, Dirim. O assunto é complexo, iríamos longe. Respeito-te, claro, embora não partilhe de muitas coisas...