Friday, September 14, 2012


Kylie Woon


Tinha por hábito ocupar somente parte da cadeira, o que demonstrava o pouco valor que dava a si própria. Tentava apoiar apenas as pontas das nádegas, ficando nas posições mais incómodas que já sentira, mas aquele era o lugar que conseguia conceder a si própria.
Um mísero lugar.

Ao rever a sua vida reparava como sempre tinha sido assim. E agora, chegada à altura da suprema sapiência, percebera que errara ao não ocupar o espaço que lhe era devido. 
Só nas palavras não era comedida. Por vezes conseguia ser odiosa. E odiar também. A ponto de se lhe cozerem as entranhas com o calor que se formava no corpo, à medida que a raiva aumentava.
Fazia agora um esforço para ocupar a cadeira toda e também para se manter direita - «ergue-te, Rosa!», ordenava a si própria. Ainda que seja no final, nunca é tarde, tentava acreditar.
Para ela talvez já fosse, mas não para Luísa, a sua filha.
Naquele instante, todos os nadas se enchiam de medo. De ar absoluto. E só naqueles momentos ela sabia que também tinha poder. Que junto a si qualquer criatura podia sentir-se viva. Inclusive ela.

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