Hoje acordei e fui fazer as compras semanais. Deu-me um aperto enquanto pensava no caminho que ia ser das últimas vezes que o fazia aqui. O caminho pela rua de Charenton pareceu-me mais bonito, mágico pela nostalgia de estar quase a deixá-lo. Dizer "bonjour" com aquele trinado de rouxinol matinal que as francesas usam... entrar no café e pedir "je voudrais un Rothman's bleu" e no fim "bon week-end pour vous aussi". Os pequenos nadas da vida que nos fazem portugueses ou franceses "selon l'évènement".
As rotinas e o que nos habituamos a elas podem mudar-nos a nacionalidade. Neste momento a minha cabeça às vezes pensa em francês e vai fazê-lo por muito tempo. Depois de seis meses adaptei-me enfim à vida de cá. O "happy hour" da sexta, o passeio de Sábado e Domingo, o "vin chaud" ao final de algumas tardes na Opéra com os colegas. Tudo vai acabar em breve e uma parte de mim sente-se infinitamente triste por não poder reconstituir isso.
Mais ainda, tenho medo de querer algum dia ser Finlandesa por uns tempos, ou Indiana...quem sabe? É muito estranho pensar que podemos ser vários na mesma vida.
A minha mãe contou-me uma vez que em Moçambique a receita dos feiticeiros para alguém a cuja vida corria mal era simples: a pessoa mudava de nome e mudava de terra, e pronto tudo iria correr bem.
A mim aconteceu-me o mesmo um pouco mudaram-me o nome porque me chamam pelo primeiro e mudei de terra. Espero que o feitiço resulte!
2 comments:
Creio que essa crença (moçambicana) remete para a possibilidade da 'auto-reinvenção' que o anonimato (através da deslocação) permite/facilita. Haverá outras ocasiões mais propícias à (re)construção de um "new-self" que não um local onde somos (podemos ser)novos - ou (re)nascer de novo?
Claro.O estranho é que resultava.Os meus pais tinham um empregado que desapareceu.Meses depois encontraram-no em Nampula e ele explicou-lhes que tinha deixado a mulher e filhos porque tinha uma vida nova com um novo nome ordem do feiticeiro.
Post a Comment