Wednesday, January 07, 2009

Herbais foi de silêncio

"Fui para Herbais pedir a esmola do silêncio. Viver em segredo não é crueldade. Mas, para viver em segredo, é preciso um companheiro do mesmo reino. Herbais - esperava eu -, não seria um domínio superior às minhas forças. O que eu não previra é que me exigisse, todas as noites, um crescendo da minha vontade de pujança, e me mudasse de ser.
Lembro-me que, no primeiro dia em que cheguei à casa de Herbais, passei horas a fio a ler Spinoza para que me inspirasse por que via decorreria a minha estadia na Casa. Na Casa das Ervas todas verdes; na Casa das Ervas sós e verdes; na Casa das Vozes e das Ervas; na Casa que me imaginara intensamente vossa e das Ervas, onde livros, flores (incluindo os arbustos com as árvores), o viver de alguns dias, ou anos, poderiam ser cultivados em silêncio. Lembro-me de ter dito quando chegar a Herbais, a minha língua perderá definitivamente o possessivo. Porque inútil. A língua que se tornaria lá transparente e verde, não estaria mais presa a um território; a mudança deu-se a 31 de Maio de 1980."
Maria Gabriela Llansol, In Lisboaleipzig 1: o encontro inesperado do diverso
Prometi que partilharia contigo o que andava a ler. Por obra de concessão de miss Woab tenho Gabriela (também a ela começo a tratá-la pelo nome próprio) entre mãos: descubro caminhos, olho (já?) de forma diferente para o que existe e para o que não virá. E sim, Lueji, as fotos são minhas, sim senhora :) e sim, Sherazade, é a tua árvore :-)

2 comments:

Woman Once a Bird said...

:) Ainda bem que gostas.

Anonymous said...

Estou rendida! :)