Thursday, May 15, 2008

Cuscuz

Gosto da palavra cuscuz e das dúvidas ortográficas que suscita. Eu, pelo menos, nunca sei como a hei-de escrever. É uma palavra rodeada de segredos, como tantas outras. Por outro lado, o segredo que desvendamos em O Segredo de um Cuscuz (no original Le Graine et le Mulet) é bem diferente e acaba por não ser segredo nenhum: é a indiferença e a frieza com que se continua a tratar os emigrantes em qualquer parte do mundo. Este distanciamento entre nós e o outro é abordado de uma maneira cruel e cómica.

As tensas relações familiares estão também divinalmente exploradas e originam, quanto a mim, as três melhores cenas do filme: a conversa impulsiva e inteligente de Rym – que me deslumbrou – com a mãe, cheia de palavrões que me fizeram lembrar por que gosto de palavrões franceses, mas não dos portugueses; o discurso fulgurante, num tom de agonia crescente, de uma mulher repetidamente traída pelo marido; e, finalmente, a dança do ventre protagonizada pela mesma Rym, que encanta tudo e todos, com movimentos embriagantes. Estas cenas, em particular, são longas, mas precisam dessa longevidade para crescer, bastando-se a si próprias, como se nada mais existisse para além delas.

No final, só Rym (filha que não é filha) soube ser filha de seu pai, que enceta uma busca utópica, a busca da igualdade e do respeito, numa França que, só em teoria, é multicultural. Passa-se em França, mas poderia passar-se em qualquer outro sítio.

Belíssimo.

2 comments:

Esplanando said...

Uma mulher de armas essa Rym! Capaz de tudo, sem medos. Uma lutadora capaz de lutar em todos os campos.

Anonymous said...

putain de merde! ;)
não te sabia tão dotada... adorei os três últimos posts!