Saturday, August 04, 2007

STRUTHOF-NATZWILLER

Estava na adolescência e, por isso, já sabia que a morte podia ser encomendada. Em massa. Crescera perante as imagens repetidas da guerra irão-iraque. Dos ataques de aviões às terras longínquas de nomes estranhos. Ali bem perto tudo era mais frio. Orquestrado nos gabinetes das organizações secretas que dividiam o mundo num singelo tratado de Tordesilhas à maneira dos anos 80. No dia em que olhou para os portões do campo de Struthop a relva estava verde e fresca. As camaratas limpas. Os fornos crematórios reduziam-se a uma sala com urnas de ferro. A sala do gás completamente limpa. de um claro quase imaculado. Não deitou uma lágrima, nem mesmo quando os que a acompanhavam as derramaram. Nem pelo arame farpado ferrugento, ou pelas vigias já frágeis de madeira velha. Os livros tinham-na impressionado muito mais.
"Utilizavam-se injecções hipodérmicas. (...) Primeiro experimentaram com benzina, mas verificaram que não era prático. Sei de um caso em que a morte só ocorreu passados 45 minutos. Procuraram um método mais rápido. A segunda experiência foi com hidrogénio e chegaram, por fim, ao fenol."
"uma vez atravessei uma barraca cheia de cadáveres nus. De súbito, vi algo mover-se, entre os cadáveres, algo que não estava nu. Era uma rapariguinha. Tirei-a do monte de corpos e perguntei-lhe quem era. Respondeu-me que era uma judia grega de Salónica. Perguntei-lhe havia quanto tempo estava ali e porquê, e redarguiu-me que não sabia e acrescentou: «já não posso viver com os vivos. Prefiro estar com os mortos.» "Creio não existir nenhum SS que não se possa gabar de ter salvo a vida a alguém. Não havia sádicos e o número de criminosos patológicos, no sentido clínico, não ia além de 5 a 10%; os outros eram homens perfeitamente normais e conscientes da diferença entre o bem e o mal. Todos eles sabiam o que se passava". "Li que em todos os relatos das atrocidades cometidas se tem falado muito em parques infantis e coisas semelhantes. Não existe nada de falso em tal afirmação. Eu própria vi um homem desenhar bonequinhos encantadores nas paredes do bloco das crianças, por lhe parecerem apropriados. Havia impulsos humanos deste género, mas estavam em contradição absoluta com a realidade". "o juiz Hofmeyer observou constar que lançavam crianças às chamas, ainda vivas, e perguntou à testemunha o que sabia a tal respeito. - Vimos uma grande fogueira e pessoas a andar à sua volta e a atirar coisas para as chamas. Vi um homem transportar algo que mexia a cabeça e observei: «meu deus, Marushka, ele vai lançar ao fogo um cão vivo!» e a minha companheira respondeu-me: «não é um cão; é uma criança» (...). Mais tarde, outras internadas confirmaram que tal acontecia." Testemunhos durante o Julgamento de Nuremberga. Depois disto, Nem perante as fotografias chorou. Embora algumas imagens nunca lhe tenham saído da cabeça.

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