Monday, January 29, 2007

Mais do mesmo

"Imaginem. A rapariga, Marie, dera entrada no hospital uma manhã, logo na primeira consulta, para lhe retirarem uma criança que estava a começar a fabricar. Tinha mantido os olhos abertos e era a cabeça que sofria. O corpo dela estava ausente. Já não o via, já não o sentia. Ela disse - o meu corpo é imundo -, mas não quis chorar diante dos médicos. Pensou que vivia uma vida estranha, que hoje em dia se falava de tudo na televisão, mas nunca daquilo que existe dentro do coração dos homens e das mulheres. Teve consciência que acabava de sofrer o seu primeiro verdadeiro desgosto, que aquele princípio de vida não era um furúnculo ou uma verruga que se podia mandar tirar porque incomodava. Ninguém a tinha avisado, ninguém. Teve a impressão de que tinha sido enganada por toda a humanidade. Até então nunca lhe tinham falado senão na lei que autorizava e no Papa que proibia, mas nunca na dor íntima, da recordação arrancada, da miséria de viver aquilo. " Yves Simon, Sentimentos à Deriva, Difel, 2004. pag.19

1 comment:

A. said...

Imaginar já é difícil.