Wednesday, January 31, 2007

E desculpem lá, mas estou tão farta, mas tão farta destes argumentos: "Quem é que quer ver as mulheres presas? A esta pergunta, cada um de nós precipita-se a olhar para dentro de si mesmo. E vê o quê? Vê essa mulher abandonada, entregue à sua sorte, desesperada. E que diz? Não, eu não quero que ela seja presa!" (neste caso, citados pela José Nogueira Pinto, em artigo de opinião do DN). Então mas será que tenho que ser abandonada, e estar entregue à minha sorte e desesperada para que se condoam de compaixão porque não desejo o feto que está na minha barriga? Se tiver ar de dondoca, e tiver uns trocados vou ali ao lado interromper a gravidez e ninguém se chateia ou, tal qual meretriz estado-unidense* devo estar atrás das grades, porque sei lá, sou tão egoísta, tão egoísta, que decido interromper uma gravidez não planeada (sim, por incrível que pareça há métodos que falham) e contrariamente à Isabel Sotto Mayor (em directo na SIC Notícias afirma que ela é a prova que uma gravidez não planeada não tem de ser indesejada - bingo, Isabel! Ora venham mais revelações dessas, que já estou de bloco de notas na mão). Alguém lhe diga por favor, que a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (vulgo aborto), até às 10 semanas, a pedido da mulher, também NÃO OBRIGA ninguém a interromper essa mesma gravidez (quer tenha sido planeada, quer não). Mas questionava-me eu se, no caso de não ter ar de desgraçada e desesperada (que até é o meu look quotidiano - o de desesperada e desgraçada... e nunca passei por uma situação de gravidez não planeada) tenho que ir para trás das grades só por não querer ter seis ou sete filhos (ou pior - nem quero ter filhos de todo) e por não receber de bom grado mais uma gravidez, porque, olhe, Isabel, não estou a ver com bons olhos a ideia de entregar o bebé - sim, porque quando nascer há-de ser um bebé e não uma mera abstracção de vida - a mais uma instituição de serviço? Ah, e por favor, alguém diga à senhora que: lá porque a ACTUAL lei despenaliza a IVG para gravidezes resultantes de violação (até às 16 semanas) ou de fetos com certas malformações (até às 24 semanas) - é que para alguns defensores do NÃO um óvulo fecundado é vida, mas um feto de 16 ou de 24 semanas não é - é muita Má sorte ter sido fecundado durante uma relação sexual não consentida, com toda a certeza - qualquer mulher nestas condições PODE ESCOLHER levar a gravidez até ao fim. E sabe? Eu cá não me vejo no direito de dizer a uma mulher vítima de violação "não podes levar a gravidez até ao fim porque foste violada por um sociopata", ou mesmo "o teu filho não terá qualquer futuro digno porque tem uma malformação grave". Só que, calha bem que também não reconheço o direito que me digam: "querida, estás grávida? então, obviamente, terás de ser mãe, quer queiras quer não. Vais ver que, no fim até vais gostar da experiência. E após os 9 meses de gestação, se continuares a ser casmurra, entregas o bebé para adopção! O importante é cumprires o papel para que a natureza te dotou". Claro, sou eu que sou uma egoísta, perdão, uma incubadora, que com toda a certeza, não sou merecedora do útero e das trompas de falópio com que a divina graça me dotou. É que, se uma mulher grávida viesse ter comigo, e me dissesse que não quer levar aquela gravidez adiante, mas também não consegue conceber a sua interrupção por convicções pessoais, eu não a tentaria fazer mudar de ideias. Acreditaria, pois, na sua capacidade de decisão e respeitaria a sua escolha. Faria o possível para que ela pudesse, efectivamente cumprir a sua escolha que seria - ter um bébe - com a maior dignidade possível. Para que aquele futuro bébe pudesse ser amado e tivesse condições de desenvolvimento dignas. Para que aquela mulher pudesse ter condições de maternidade dignas de um Ser Humano que pôde escolher. É que, contrariamente à Isabel Sotto Mayor, eu não acho que a minha escolha tem de ser a escolha de toda a gente. Ou que a minha experiência tem de servir para toda a gente. p.S: tinha que ser estado-unidense, já que a lei portuguesa não proibe a prática de angariação de clientes aos profissionais do sexo.

3 comments:

Tamodachi said...

Bem, isto tem muito que se lhe diga, por isso vou começar:

1- Meninas, comecem a treinar o ar abandonada, entregue à sua sorte, desesperada. Isto é muito importante para que tenham pena de nós! De preferência estejam desgrenhadas, porque penteadas já não provoca o mesmo impacto!

2- Se não tenho o direito de interromper uma gravidez que não desejo, porque é que me dão o direito de ter filhos quando quero?
Tenho o direito de os fazer quando quero e ninguém me diz nada, mas não posso os posso desfazer quando quero! Exijo que se faça uma lei que só me deixe ter filhos quando forem extremamente benformados ou frutos de um amor eterno!

3- Apetece-me não ter filhos nunca!!! E se não tiver nunca? E agora se todas nós fizêssemos o mesmo? E se não deixássemos as outras mulheres que os querem ter, tê-los? O que seria de nós?

4- E o que está previsto na Lei é uma grande TANGA (e desculpem a palavra)! Tive a oportunidade de ver uma notícia duma senhora paraplégica, com um desvio na coluna e no útero fatais para ela em caso de gravidez. A senhora, devido a uns comprimidos que teve de tomar e que lhe anularam a pílula, ficou grávida e foi pedir ao médico de família que a orientasse para ir abortar. O médico escreveu na credêncial que "por motivos óbvios" a senhora teria de abortar. A única resposta que a senhora levou do hospital onde foi, foi: "Nós aqui só os damos à vida, não os tiramos". Resultado, paga do bolso dela uma ida a Badajoz, porque o que importa, não é a LEI, é a vontade dos outros. Mais uma vez os outros a imporem a sua vontade aos nossos direitos.

5- Partindo do princípio que eu levo uma gravidez que não desejo até ao final, deduzo que todos os defensores do NÃO estarão dispostos a ficar-me com a criancinha. Mas lembrem-se que uma criancinha não é só ter, é também criar, alimentar, tratar, educar, vestir, etc, etc. Bato, portanto, à porta dum de vós, defensores aguerridos da VIDA, para que me fiquem com ele. É que abandoná-lo numa instituição para ser mais um mal-amado abandonado, não quero!

6- Metam nessa cabecinha que a despenalização do aborto não significa que vamos começar a abortar feitas malucas só para experimentar. Também não significa que se vá obrigar quem não quer abortar, a fazê-lo. Isto faz-me lembrar a anedota do gajo que, quando via um monte de merda, tinha de o pisar. Pois bem, não é o caso disto. QUEM NÃO QUER, NÂO FAZ!!! E deixem as decisões dos outros para eles!

De resto fico-me por aqui porque senão não me calo...

Anonymous said...

Não precisas de te calar não. Concordo a 100% com tudo o que foi escrito. Apenas acrescento que a "polémica" em volta do assunto das IVG tenha muito mais a ver com a nossa cultura. Somos um país onde se previlegia as aparências em detrimento de tudo o resto. Tenho dito.

Tamodachi said...

Também concordo com isso e disseste muito bem. Poder-se dizer que é: "Não olhes para o que eu faço, não saibas o que eu faço, mas segue cegamente o que a moral e os bons costumes que eu te estou a impingir, diz".
E assim se governa a vidas dos outros...