Thursday, October 26, 2006

The morning after

Banquecoque? Bah... uma desilusão. A cidade é estranha: uma amálgama manhosa de duas civilizações com muito pouco, ou mesmo nada, em comum. A nossa ( e aqui, por muito que me custe, junto também a do Tio Sam...afinal estamos do mesmo lado do mundo...) e a Oriental. Aos olhos salta o desconcertante e aberrante efeito oferecido pelos ostensivos e envidraçados arranha-céus das multinacionais estrangeiras geminados a casas minúsculas cuja melhor descrição é a de mini-prisões pós-revolta. Todas estas casas parecem ter ardido vezes sem conta - tal é o negrume que as cobre - e onde qualquer brecha para o exterior é ornamentada por uma grade. Com tudo o que vi, fiquei sem saber se as grades são para impedir alguém de entrar ou de saír... Os andares rasteiros são lojas. Lojas onde se vende de tudo, mesmo tudo. Afinal esta é mais uma das cidades que está à venda.
Anything! Just name it! Boys, girls, children.
Anything you want! Come with me.
Suja, muito poluída e com trânsito caótico é assim esta cidade. Um reflexo do que se passa com as pessoas que por ela circulam. Ninguém sai impoluto. O cheiro nauseabundo entranha-se em nós. As imaculadas máscaras brancas num ápice ficam cinzentas. Tudo é pegajoso, principalmente as pessoas. O sexo é o prato do dia e não é preciso ser hora de refeição.
Ele está no meio de nós.
No meio deste cenário pseudo-dantesco, os híbridos tailandeses têm sempre um sorriso amistoso. Servil e interesseiro, mas amistoso. A excepção é feita pelos taxistas e pelos condutores de tuk-tuk, que em part-time são chulos altamente desconcertantes.
Uma coisa é perseguirem-te, com portfolios explícitos de todas as expressões sexuais na rua, onde tens como fugir, outra é estares dentro dum carro.
É assim tão difícil entender que não estou aqui para foder? - Mas faz parte do serviço. Se eu não o satisfizer o Senhor o meu chefe bate-me e põe-me na rua. Eu preciso do dinheiro. A minha mãe está doente e é ela que toma conta dos meus 2 filhos. -....... - Eu faço o que o Senhor quiser. - E se eu te der o dinheiro e não fizermos nada? - O Senhor não vai dizer ao meu chefe? - Se lhe disser é que eu vim aqui para uma massagem e era mesmo isso que eu queria !!! As ruas estão continuamente apinhadas de pessoas suadas e veículos a abarrotar. Paira no ar um cheiro a frito proveniente das incontáveis bancas de comida. Uma mescla de sexo com especiarias é o aroma constante. Constante é também a presença de pedófilos, bem sei que é juízo de valor ( mais um no meio de tantos ) mas os pares improváveis não deixam muito espaço à imaginação. Nórdicos obesos com os seus pajens. Velhos decrépitos de mão dada com meninas (?) de olhar vazio.
A verdadeira imagem do paraíso... Acabado o tão desejado banho , finalmente tive direito a uma relaxante massagem tailandesa. Escusado será dizer que tive de explicar que era sem o extra sexual. Os odores enebriantes do Spa conduziram-me para a cama. O meu corpo implorava descanso e a cabeça suplicava por ele.
Não fiz esta viagem para estar a odiar cada segundo que passa.
Não fiz esta viagem para me perder assim em mim.
Não é isto que quero.
Amanhã mal acorde vou comprar o bilhete para me pirar daqui! Em mim mesmado, entreguei-me à cama e aos néons, que a parede de vidro do quarto, não impedia de entrarem. Voltei a acordar febril. Uma existência inteira numa redoma de vidro não nos protege de nada a não ser de nós próprios. Um cocktail de anti-piréticos e a vontade de ver a cidade durante o dia arrastaram-me para a rua. Depois de 15 Namastés sorridentes acompanhados dos respectivos gestos cheguei à porta do Hotel. O automatismo das portas estabelece a fronteira entre o agradável e o nem por isso. A acompanhar o deslizar das portas, as gotas de suor marcam presença. Em menos de um minuto estava como acabado de sair do banho. De água pouco recomendável, entenda-se. O fim das escadarias do Hotel era um pesadelo, lá em baixo um amontoado de pessoas agitava propostas sexuais. Fotografias em punho e portfolios de tudo o que tinham disponível para a satisfação mais perversa do presumível cliente.
Todos nós.
Antes da escadaria uma estrada à porta do Hotel criava uma separação – decides descer as escadas e estás por tua conta, lia-se nos olhos dos porteiros. Para não cair nesse fosso ilusório só mesmo apanhar um táxi do Hotel, mas não me sentia bem para me afastar. Decidi-me a enfrentá-los. Milhentos No, thanks e uns quantos encontrões bastaram-me... Ao segundo dia qualquer alusão sexual já me enojava. Deambulei pela rua do Hotel, sempre em fuga a tudo o que me era oferecido. Bastava ter dólares e o mundo era-me servido.
Da forma que eu bem entendesse.
A inexistência de passadeiras e de sentidos na circulação automóvel faz com que ser peão seja verdadeiramente aterrorizante nesta cidade. Não sei se foi o Sol ou o atordamento medicamentoso que me fez ver uma cidade menos feia. Decidi-me a não comprar o bilhete para o Nepal nessa manhã. Não iria ficar tempo suficiente para conhecer Banquecoque, mas também não lhe ia virar as costas já...

1 comment:

Yakunna said...

Boa...
Ainda bem que li o que escreveste...
Vou riscar bnguecoque da minha lista de visitas a fazer!!!
;)