Nesta vida nem sempre se deve ser de coração aberto, e as verdades que mais nos importam dizem-se até ao meio. A dissimulação não é uma fraude. É uma indústria de não mostrar as coisas como são. E é uma indústria difícil: para nela se ser excelente é preciso que os outros não reconheçam a nossa excelência. Se alguém ficasse célebre pela sua capacidade de camuflar-se, como os actores, todos saberiam que ele não é o que finge ser. Mas dos excelentes dissimuladores que existiram e existem, não se tem notícia alguma. (...)
Deveis aprender a fazer com a palavra arguta o que não podeis fazer com a palavra aberta; a mover-vos num mundo que privilegia a aparência, com todos os desembaraços da eloquência, a ser tecelão de palavras de seda. Se as flechas perfuram o corpo, as palavras podem trespassar a alma.
In A Ilha do Dia Antes, Umberto Eco
Imagem: Lágrimas de Pássaro, Mário Cravo Neto
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