Sunday, August 27, 2006

"Damos festas, abandonamos as nossas famílias para vivermos sós, batalhamos para escrever livros que não mudam o mundo apesar das nossas dádivas e dos nossos imensos esforços, das nossas absurdas esperanças. Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos. É tão simples e tão normal como isso.
Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, mas a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doenca ou, com muita sorte, pelo próprio tempo.
Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginamos, embora todos, excepto as criancas (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã e o céu azul. Mesmo assim, desejamos, acima de tudo, mais..." Michael Cunningham, In "As Horas"

1 comment:

Woman Once a Bird said...

Sim, somos irremediavelmente seres desejantes. ;)