Monday, July 10, 2006

Primeira epístola a Dirim

Muitas vezes, não é necessário buscar muito longe. Nas palavras cristalizadas de outros obtemos muitas vezes uma chave que podemos torná-la absolutamente nossa, adequando-a como instrumento para abertura ao mundo; e assim obtemos uma filosofia viva, desempoeirada das prateleiras mais altas e maioritariamente esquecidas. É necessário trazer a palavra à existência (tal como é necessário emprestar também a existência à palavra). Traduzi-la em nós e para nós...
Da dúvida como método... "... jamais receber por verdadeira coisa alguma que eu não conhecesse evidentemente como tal: isto é, o de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; de não compreender nada mais nos meus juízos senão o que se apresentasse tão claramente e distintamente ao meu espírito que não teria qualquer ocasião de o pôr em dúvida."
Descartes, Discurso do Método
“Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte de verdade, mas um certo génio maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto, que pusesse toda a sua indústria para me enganar. (…). Por conseguinte, suponho que é falso tudo o que vejo. Creio que nunca existiu nada daquilo que a memória enganadora representa. Não tenho, absolutamente, sentidos; o corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar são quimeras. Então, o que será verdadeiro? Provavelmente uma só coisa: que nada é certo.”
Descartes, Meditações Sobre a Filosofia Primeira
No início era...
"... entendendo agora agora dedicar-me apenas à busca da verdade, pensei ser necessário (...) rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que eu pudesse imaginar a mais pequena dúvida (...). Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, quis supor não existir coisa alguma que fosse tal como eles a fazem imaginar. (...). Mas logo de seguida me dei conta de que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, se impunha necessariamente que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E notando que esta verdade, eu penso logo existo, era tão firme e tão segura que (...) julguei que a podia receber sem escrúpulo como primeiro princípio da filosofia que eu procurava.
Descartes, Discurso do Método