Friday, June 09, 2006

Homens No perfil agudo dos quartos Nos ângulos mortais da sombra com a luz. Vê como as espadas nascem evidentes Sem que ninguém as erguesse - de repente. Vê como os gestos se esculpem Em geometrias exactas do destino. Vê como os homens se tornam animais E como os animais se tornam anjos E um só irrompe e faz um lírio de si mesmo. Vê como pairam longamente os olhos Cheios de liquidez, cheios de mágoa De uma mulher nos seus cabelos estrangulada. E todo o quarto jaz abandonado Cheio de terror e cheio de desordem. E as portas ficam abertas, Abertas para os caminhos Por onde os homens fogem, No silêncio agudo dos espaços, Nos ângulos mortais da sombra com a luz. Sophia de Mello Breyner Imagem de David Ho

3 comments:

Woman Once a Bird said...

Não se tornam animais. Não é a inocência e a sobrevivência que fala. É a perversão, a distorção. Nada mais.

feniana said...

:) um sorriso para ti

Dirim said...

Obrigada :) :)