Por isso eu disse a um aluno meu angolano no mestrado na Faculdade de Direito, numa discussão sobre estes assuntos (Igualdade e Direito), que o racismo só teria acabado no dia em que, olhando para ele, eu não notasse que ele é negro ou que eu sou branca, o que vai dar no mesmo. (A minha brancura, aliás, resulta da «negrura» dele). É que, ao contrário do que estas palavras insinuam, não se trata de uma questão de cor de pele, mas de uma percepção histórica e culturalmente condicionada, em que estão inscritas todas as práticas, incluindo as discursivas, de um passado colonial que nos coloca em campos opostos e de um presente de profunda clivagem em termos de desenvolvimento económico-social dos nossos países de origem. Toda a produção «científica», todo o imaginário popular ou erudito que constituíu e molda ainda a percepção das «raças» embebe o nosso inócuo acto de verificação imediata, quase instintiva, de que somos de «cor» diferente. Nada de semelhante se passa se falo com um aluno oriundo de um país nórdico, cuja cor de pele em muito se distancia da minha. Mesmo se eu reparar nisso, o meu condicionamento inconsciente é completamente distinto.
Teresa Pizarro Beleza in Desigualdade e Diferença no Direito Português
1 comment:
a questão não está em ela deixar de ser branca ou ele negro. A questão está em ela reparar nisso. Repara no exemplo que ela dá relativamente à Escandinávia - ela não considera que a sua cor seja, de todo, aproximada. Mas a sua percepção/representação do outro é totalmente distinta.
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