Saturday, March 25, 2006

Do tempo ao coração

"Pior que o esquecimento era a suspeita
De que o inverno em mim amarelecera
Toda a razão da Primavera...
Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro
O pano de um teatro
Um passeio de noite a sós de bicicleta
O riso que ninguém teve no teatro
Folheia-se no bar o horário da morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena
Chega-se a este ponto
Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela
Acender o cachimbo
Para deixar no mundo uma herança de fumo
Rola um trovão
Chega-se a este ponto
Em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do Sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe"
In Do Tempo ao Coração David Mourão Ferreira

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