Tuesday, January 24, 2006

Tipificações

Admito que detesto tipificações. "Há pessoas assim, assado". As positivas, as optimistas, as negativistas, as pessimistas, as depressivas, as blá, blá, blá, como se duas únicas metades constituissem o mundo e estivessem de costas voltadas.
Ocorre-me, no entanto, pensar que, se calhar, só mesmo por uma breve e maléfica brincadeira divina (não de deus, ou da deusa, mas da evolução) @s defensor@s desta simplista teoria até poderão ter razão após ouvir a história de uma rapariga que tinha perdido o seu companheiro (este tinha cometido suicídio). Ela chorou a sua perda. Deitou todas as lágrimas que tinha até se sentir vazia, até atingir o estádio da tábua rasa que aprendemos em filosofia. Depois decidiu reaprender tudo de novo. Procurou um trabalho. E foi precisamente porque tinha esquecido tudo o que aprendera anteriormente que respondeu a um daqueles anúncios dos quais a maior parte das pessoas sensatas foge: "quer ganhar 1500€ numa semana? Não é para distribuir circulares". Ninguém com o senso todo responde a um anúncio destes. Mas ela respondeu. Começou a trabalhar. E a ganhar dinheiro. Muito dinheiro. Tem a ambição de abrir o seu próprio negócio e as coisas correm-lhe muito bem. Não que já esteja a ganhar 1500€ por semana, mas já atinge esse valor mensalmente. E continua no seu processo de aprendizagem.
Fiquei a pensar que ainda que fosse uma daquelas pessoas consideradas negativistas, pessimistas e mais não sei o quê a responder áquele mesmo anúncio, a ter aquele mesmo trabalho, teria começado e após uma ou duas semanas teria desistido. Não por ser pessimista ou negativista ou lá o que seja. Não por não acreditar, mas por não conseguir esquecer tudo o que tinha dentro de si. Todos os ensinamentos que lhe diziam que nada daquilo era verdade, que as coisas têm que ser difíceis para serem verdadeiras, e que ninguém dá nada de graça.

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