Agora que já ultrapassamos toda esta época crítica - em que toda a gente felicita, congratula, abraça, beija, dá palmadinhas nas costas... enfim, quando toda a gente de sorriso rasgado nos lábios proclama o seu amor ao próximo até à madrugada do dia 1 - dizia eu, agora que ultrapassamos toda esta fase, coloco algumas questões que me assaltam invariavelmente ano após ano, nesta época tão histriónica. É que ainda não percebi porque toda a gente se põe a fazer balanços por esta altura; são os políticos do ano, as frases do ano, os filmes , as músicas, os livros e, pasme-se, agora elegem-se também os blogs, como se se conseguisse afirmar taxativamente quais os melhores (ou os piores). Na verdade, todo este exercício parece-me querer, de certo modo, atingir o mito da omnisciência que nos persegue (humanos) desde que nos conhecemos gente. É que é a velha história de querer transcendermo-nos e nada melhor para o fazer do que estes balanços em que afirmamos conhecer o que de melhor e de pior se fez. Fazêmo-lo de ano a ano, que ainda assim a tarefa é hercúlea (já para não dizer o óbvio, ou seja, que é falaciosa).
Se na maior parte dos casos falamos de obras artísticas, porquê taxá-las ao ano? E se me apetecer dizer que a melhor obra musical do ano (porque efectivamente a ouvi NESTE ano) é o Prelúdio de Tristão e Isolda de Wagner? Mais, posso até querer afirmar que nos últimos cinco anos, o Prelúdio de Tristão e Isolda foi, consecutivamente, a melhor obra musical que ouvi. E depois? E que dizer de todas aquelas que desconheço, existem e que são obras primas em potência para os meus ouvidos? Porque hei-de afirmar que abraço O MUNDO quando apenas ponho os braços em volta daquilo que é o meu mundo(inho)?
(O título dado ao post foi roubado a Álvaro de Campos. Suponho que ele não se importe.)
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