Sunday, November 13, 2005

O toque no ouvido

Ver tudo a negro. Pressentir as aproximações ou não percebê-las de todo. Não ter cor. Só cheiro. E tacto. A urgência de ouvir.

"O que é? - tacteia o porta-chaves - Um cão?"

"Não, um urso."

"Pois, é muito fofinho. De que cor?"

"É castanho. Bem, não é bem castanho, é mais um castanho clarinho, um camel."

"É bonito."

Ficou marcado a ferro em mim, lembrança da minha cegueira até então. Estou com ela, conduzo-a, levo-lhe o tabuleiro ao final do almoço. E só quando perguntou pela cor do urso, tive total percepção da enormidade da sua força. Como explicar uma cor a quem vê tudo a negro?

10 comments:

Anonymous said...

Tu tens um porta-chaves com um urso fofinho?!!!

Woman Once a Bird said...

Em nenhum momento afirmo que tenho um porta-chaves. Ou que o urso é meu. deves ter os olhos em bico de ler tantos posts!

Anonymous said...

A hostilidade contra o povo oriental é muito comum é na Madeira... Serás madeirense?

Woman Once a Bird said...

O filósofo apressa-se a fazer pré-juízos, que por sua vez dão origem a pré-conceitos. Esperava mais de quem escreveu sobre ética... mas enfim, também já lá vão largos séculos. As posturas (e clarividências) mudam!
Aliás, a teoria de que os madeirenses são hostis para com os orientais tem exactamente a mesma origem que a anterior teoria (em outras oportunidades apresentada pelo ilustre pensador), de que para fazer com que a Madeira desapareça do mapa, basta tirar a rolha que a sustém... filosofices!

Anonymous said...

Afinal, tens ou não tens um porta-chaves com um urso fofinho?

Woman Once a Bird said...

Tenho um urso em forma de porta-chaves...
E um Aristóteles em vias de se tornar um porta-chaves... aliás, acho que um formato de porta-chaves ainda é pouco para aristóteles tão desbocadinhos...
E mundos domingueiros também...

Woman Once a Bird said...

Lembrei-me que afinal tudo isto resulta do (mais que)provável mau humor que tens carregado no dia de hoje... o horário é pouco generoso para ti, não é?
Assim, porque também eu sei ser magnânima (embora saiba que ainda me ultrapassas - afinal de contas, és também excelso), apagarei da minha memória (selectiva) as provocações que me foram endereçadas...

DomingonoMundo said...

Quero manifestar a minha total solidariedade com o meu amigo Aristóteles, aqui enxovalhado e vilipendiado; repudio o modo como o seu nome foi arrastado na lama, tendo sido mesmo apodado de "chinês". O modo como Aristóteles é incompreendido é bem exemplo do descaso frequente entre o génio e o seu tempo!

Woman Once a Bird said...

A questão é que o génio está fora de tempo...
E, roubando palavras a um célebre poeta "Eu não sou eu, nem sou o outro..."

Woman Once a Bird said...

Pelos vistos, Aristóteles é o Mundo aos Domingos; às Terças é mau humor e às Quartas angelical. Nos restantes dias, suponho que prevalece o mau feitio visceral...